Nossa bandeira já esteve perto de ser vermelha. Nada a ver com a decisão futebolística desta quarta-feira, nem com a eterna guerra ideológica entre esquerda e direita. Seria, apenas, uma bandeira republicana – o vermelho gritante centralizado entre uma faixa preta e outra branca. Quase uma bandeira da Alemanha, apenas trocando o amarelo pelo branco. O modelo foi proposto pelo jornalista e ativista político Antônio da Silva Jardim logo depois da proclamação da República. Mas ele perdeu essa parada, foi passear na Europa e acabou sendo engolido pelo Vesúvio antes de virar nome de cidade no Rio e de rua no bairro Mont Serrat, em Porto Alegre. A lógica de seu desenho era representar as três raças predominantes na formação do povo brasileiro: o branco europeu, o vermelho indígena e o preto africano.
Prevaleceu, porém, o gosto dos republicanos pelo verde e amarelo. Se perdemos alguma coisa em matéria de simbologia, certamente ganhamos em colorido e beleza. Cada vez que observo um pavilhão nacional tremulando com o vento da primavera, como ocorre nestes dias instáveis de setembro, concluo orgulhoso: nossa bandeira é linda. Gosto de tudo nela, das cores, das figuras geométricas (retângulo, losango, círculo), das estrelas brancas cravadas na esfera azul representando os Estados e até mesmo daquele lema positivista que apregoa o que infelizmente ainda não conquistamos.
Só não gosto quando governantes e grupos políticos tentam se apropriar da bandeira e de outros símbolos nacionais, como se fossem mais patriotas do que os demais brasileiros. Da mesma maneira, também acho de última que alguns patrícios se recusem a adotar as cores da pátria por constrangimento ou para não serem confundidos com apoiadores de eventuais ocupantes do poder.
Brasileiros, uni-vos. Precisamos resgatar o direito e o orgulho de vestir uma camisa amarela e sair por aí
Abaixo os extremismos. Brasileiros, uni-vos. Precisamos resgatar o direito e o orgulho de vestir uma camisa amarela e sair por aí.
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Tenho meus rompantes de patriotismo, mas não contem comigo para defender nacionalismos segregadores e desumanos. Nosso país é gigante pela natureza, mas também por ser colorido, multirracial e generoso. O Brasil – como diz uma bela canção de Marisa Monte em parceria com Carlinhos Brown e Nando Reis – não é só verde, azul e amarelo. Também é cor de rosa e carvão. Aqui há espaço para todos e para sonhos de todas as cores.
Inclusive para o vermelho. Reparem naquela estrelinha inferior do triângulo austral da Bandeira Nacional. Ela representa o Rio Grande e o seu pavilhão tricolor, que ostenta uma emblemática faixa escarlate entre o verde e o amarelo. Significa, como bem sabem os gaúchos, o ideal revolucionário e a coragem de um povo que sabe ser forte, aguerrido e bravo quando se sente ameaçado em suas liberdades.