No momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assegurava à imprensa em Brasília que não arredou um centímetro de seu compromisso em buscar o equilíbrio fiscal, a pouco menos de 2 mil quilômetros dali, em Maceió (AL), o ministro da Casa Civil, Rui Costa, dividia o palco com outros ministros e com o presidente da Câmara, Arthur Lira, no anúncio de um pacote de obras do PAC. O programa de investimentos em infraestrutura está no centro da discussão que deixa cada vez mais isolado o homem que tem a chave do cofre.
Manter o patamar de investimentos públicos em obras e outros programas em que a população enxerga a atuação do Estado é uma prioridade do presidente Lula. Daí o motivo de ele ter dito em alto e bom som que o déficit em 2024 não precisa necessariamente ser zero — como defende Haddad. Nos acordos que tem firmado para contar com uma frente ampla no Congresso, Lula nunca prometeu ser rigoroso com gastos, pelo contrário. Neste cenário, o que todos buscam é espaço nas fotos do extenso roteiro de inaugurações de obras.
Nesta segunda-feira (30), ignorando a sanguinária disputa local, Lira e o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), dividiram palco durante a cerimônia que anunciou os empreendimentos do PAC em Alagoas. Seguiram a orientação de Lula: manter a harmonia em busca de uma frente ampla de entregas à população.
Rui Costa está longe de ser unanimidade no governo e no Congresso. Mas está irmanado no objetivo de tornar o PAC um elo de apoio nos Estados, além de grande vitrine do governo. Para isso, enfrenta em alguns casos a oposição da Fazenda ao avanço de gastos. Relação de forças, aliás, que não é exclusividade do atual governo.
Diante da repercussão com a fala de Lula, Haddad convocou a imprensa para argumentar que não há "descompromisso" do presidente com a meta de zerar o déficit, mas uma preocupação com medidas tomadas nos últimos anos que comprometem a base de arrecadação. Por isso, sob orientação de Lula, irá expor às lideranças do Congresso a necessidade de mudar leis que ampliaram benefícios fiscais.
— Faço o que acredito, o país precisa olhar para as contas públicas. Eu não mudei de ideia. Mas preciso de apoio político, do Congresso e do Judiciário — afirmou Haddad.
No afã presidencial em formar uma base ampla e com eleições municipais à vista, ninguém quer falar em contingenciamento de recursos. Por isso, só restou a Haddad correr para tapar os buracos da arrecadação e não ser engolido pelo PAC.