Depois do atentado de domingo contra Donald Trump, as chances de o candidato republicano ganhar as eleições nos Estados Unidos, que já não eram pequenas, cresceram.
Pelos primeiros indícios, o FBI, a polícia federal dos EUA, avalia que o autor dos disparos - já morto - tenha agido sozinho. Mesmo assim, a eleição americana será muito mais conturbada do que já se previa, o que significa mais incerteza e mais espaço para especulação no mercado.
No Brasil, o dólar chegou a abrir em baixa, mas em seguida passou a subir e neste início de manhã está cotado 0,79% acima da última sexta-feira, em R$ 5,474.
Um atentado contra um candidato à presidência nunca é banal, especialmente nos Estados Unidos. E se o episódio não mudar convicções de Trump, será fartamente usado em seu favor na campanha.
Pelas informações de sua assessoria, Trump teria sobrevivido com um arranhão apenas por ter virado a cabeça na hora do tiro. Um jornal de Mikwaukee, onde será realizada a Convenção Nacional Republicana que deverá consagrar sua candidatura, relata que ele está usando uma grande bandagem branca sobre a orelha ferida.
Embora exista uma tentativa de elaborar o episódio de sábado (13) como um alerta sobre a polarização alimentada com discurso de ódio nas redes sociais - e atitudes forjadas nesse ambiente, como a do autor dos disparos, Thomas Crooks, de 20 anos, será difícil prosperar, segundo analistas mais realistas.
O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, fez um apelo para "baixar a temperatura do debate" e a "escalada da retórica". Nos últimos anos, assassinatos políticos vitimaram o ex-primeiro ministro do Japão, Shinzo Abe, e o candidato à presidência do Equador, Fernando Villavicencio.
Para Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco Eurasia, o ideal seria que o debate político nos EUA fosse feito nas tradicionais bases bipartidárias do país, não com postagens individuais em redes sociais. Mas advertiu a seus clientes que é preciso "estar preparados para mais violência".
Crooks era vinculado a um clube de tiro e teve acesso a uma arma pesada, um fuzil AR-15 supostamente comprado por seu pai, Kevin Rojek, agente especial do FBI em Pittsburgh. Ou seja, tinha perfil mais próximo da retórica de Trump do que de seu adversário.
Até agora, os comunicados da campanha republicana foram sóbrios, mas é cedo para poder dizer que o episódio atenue o discurso de ódio.
Os fatores de pressões sobre o dólar
Atentado contra Trump e perspectiva de início de cortes de juro nos EUA: a tentativa de assassinato de um candidato à presidência dos EUA tem consequências imprevisíveis e facilita a especulação. Enquanto isso, a taxa alta lá e mais baixa aqui torna países como o Brasil menos atrativos, e investidores resgatam aplicações aqui com intenção de migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio.
Eleições na Europa: depois do crescimento das bancadas que questionam a União Europeia, a vitória da esquerda nas eleições da França inverteu a tendência no país em uma semana e agora há expectativa pela definição do primeiro-ministro. O presidente Emmanuel Macron já sinalizou que não aceita Jean-Luc Mélenchon, do França Insubmissa, um dos cinco partidos da coalizão vitoriosa, por representar a "extrema esquerda".