No segundo trimestre sobre o qual havia expectativas de que a atividade econômica houvesse parado de piorar, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) veio com alguns sinais de alerta e outros de esperança. O alerta: ainda piorou, até mais do que o esperado pela média dos analistas. As expectativas mais pessimistas andavam na casa de 0,5%, e o resultado foi mais um recuo de 0,6%, o sexto consecutivo. A esperança: o indicador de investimento embutido no PIB mudou de negativo para positivo pela primeira vez depois de 10 trimestres, ou dois anos e meio, no vermelho, assim como a indústria.
O indicador conhecido como Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) mede a aposta das empresas na compra de máquinas e equipamentos para a produção. Mais do que mostrar o que ocorreu no trimestre anterior, sinaliza o que pode vir pela frente. Não à toa, o FBCF foi o primeiro sinal de que havia algo errado na economia brasileira: começou a cair no último trimestre de 2013. O Brasil não cresceu no ano seguinte e mergulhou em recessão nos dois consecutivos. Sozinho, o dado não garante retomada, mas autoriza a projetá-la.
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Reverter a queda livre na economia é o foco de Michel Temer. Um de seus principais auxiliares, Moreira Franco, secretário-executivo do PPI, programa de concessões e privatizações, é a saída da crise que poderá legitimar o interino transformado em substituto. Se o argumento para o impeachment de Dilma Rousseff foram pedaladas fiscais e decretos de suplementação de verba feitos em 2015, a causa real foi o desastroso desempenho de seu segundo mandato na economia. Outra vez, o PIB ajuda a explicar: não houve um só trimestre positivo desde janeiro de 2015.
A consciência de que essa é sua única alternativa pautou a escolha da equipe econômica, seu melhor aporte no período de interinidade. Em pouco mais de três meses, as dificuldades na relação com o Congresso embaçaram o distintivo brilhante exibido por Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda, a ponto de ele ter de responder em público sobre eventuais semelhanças com Joaquim Levy. O capital de credibilidade do fiador da política econômica não foi corroído, mas o ministro precisa demonstrar que vencerá batalhas dentro do governo para manter o que já conquistou até agora: a recuperação da confiança de empresários e consumidores.
A expectativa mínima na economia é de duas entregas de Temer e Meirelles: a aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) que estabelece a teto da variação da inflação medida pelo IPCA sobre as despesas do governo central e a reforma da Previdência. O foco da pressão na Previdência é simples: é de longe, a maior fonte de gastos do governo federal, mais de cinco vezes maior do que duas outras rubricas consideradas essenciais, saúde e educação. Parece pouco? Será preciso vencer grandes resistências corporativas, sindicais e populares.