A expressão "deixar o fruto cair por seu peso" serve como uma luva ao longo, desgastante, mas finalmente definido afastamento de um réu do comando de uma das mais importantes instituições do país. Desmontadas as teses conspiratórias, ainda intriga a causa da sobrevivência tão longa de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no cargo, diante de tanta unanimidade contrária, maior até do que a rejeição à presidente Dilma Rousseff.
Por mais que tenha sido provocada por ciúme ou vaidade, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) alivia a vergonha do Brasil tanto diante de seus cidadãos quanto no cenário internacional. Pergunte a qualquer empresário, economista ou analista: faz parte da extensa lista de crises do Brasil – política, econômica, de representação – a da ética.
Diante do provável afastamento da presidente Dilma Rousseff, em sete dias, esse réu poderia vir a ocupar sua cadeira. Mau sinal para a ética, mau sinal para a política e mau sinal para a economia. Se você fosse um estrangeiro, investiria em um país que tem um réu no segundo posto de comando do país? A essa altura, todo candidato a desenvolver qualquer projeto no Brasil, esteja nos Estados Unidos ou na China, conhece a, digamos, folha corrida de Eduardo Cunha.
O "malvado favorito" – uma injustiça com o bom coração de Gru – surgiu ontem, em frente às câmeras, com expressão sempre imutável, dizendo exatamente o oposto: que seu afastamento prejudicaria a imagem do país lá fora.
Acidentalmente, o afastamento de Cunha ocorreu no mesmo dia em que o Brasil voltou a ter sua nota de crédito rebaixada por uma das três grandes agências avaliadores, no caso a Fitch. Nada mais é do que uma coincidência. Obviamente, seu caso sequer é citado pela agência, que tem foco nas contas públicas do Brasil, contra as quais Cunha montou sua pauta-bomba que já tratava de reativar, mesmo depois de praticamente removida sua inimiga preferida, Dilma.
Para a imagem do Brasil no Exterior, a remoção de Cunha do segundo cargo na linha sucessória, a partir da próxima quinta-feira, é um constrangimento a menos. Ainda falta lancetar vários outros. Se não for por decência, que seja por ciúme e vaidade.