A expectativa de que março fecharia como o melhor mês da bolsa em quase 17 anos – desde dezembro de 1999 – não se concretizou. No útimo pregão, nesta quinta-feira, o Ibovespa encerrou com queda de 2,33%, aos 50.055 pontos. Mas ainda que um pouco menor, a alta acumulada no mês é a maior desde outubro de 2002, portanto em mais de 13 anos.
Para deixar a situação ainda mais complexa, o dólar também teve a maior queda dos últimos 13 anos: 10% no mês, de R$ 3,99 para R$ 3,597. Ou seja, do ponto de vista do mercado financeiro, o Brasil teve o melhor mês em mais de uma década. Sim, hein? É o divórcio entre o universo da papelada e o da economia real que a coluna abordou ontem. Março foi o mês em que ficamos sabendo que 4 mil indústrias fecharam só no Estado de São Paulo. Que o desemprego no país ameaça chegar a 10 milhões de brasileiros. Que a renda real não para de cair, pressionada pela inflação alta e por cortes de pessoal.
Não é coincidência que março de 2016 tenha sido pior mês para os governos do PT, por isso a conta do recorde em número de anos é uma ironia. Boa parte do movimento de alta na bolsa e baixa no dólar é reflexo do que é informalmente chamado de "rali do impeachment".
Quanto pior a situação do governo, melhor o mercado reage. Ontem não foi diferente: a bolsa caiu, com um olho na resistência de parte do PMDB em sair do governo, o que fortalece Dilma, e outro na decisão do pleno do STF que manteve na corte escutas envolvendo a presidente.
É claro que houve um movimento previsível de realização dos ganhos gerados pela disparada nos preços das ações ao longo do mês. Em cenário de recessão e instabilidade política, era de se esperar que os investidores aproveitassem para colocar algum dinheiro no bolso. Como em outros momentos no gráfico abaixo, a disparada está longe de indicar que há recuperação – embora indicadores insinuem "despiora".