Se a véspera do desembarque oficial do Planalto por parte do PMDB – fiador de todos os governos desde a redemocratização do país, em 1985 – levou o dólar a R$ 3,62 e a bolsa de volta aos 50 mil pontos nesta segunda-feira, há um fenômeno mais curioso no mercado financeiro. Assim como os kits eleição e impeachment, já existe um informal “kit Temer” – grupo de ações cujo preço pode ser impactado caso seja confirmado um governo comandado pelo atual vice-presidente.
As empresas seriam afetadas pelas diretrizes do que se presume como a base de atuação dessa eventual gestão, o conjunto de propostas incluídas no plano Uma Ponte para o Futuro. Como o mercado antevê possíveis restrições ao Fies, programa de financiamento estudantil, e ao Minha Casa Minha Vida, as empresas de educação e de construção civil com capital aberto e focadas nesses dois segmentos já tiveram desvalorizações nesta segunda-feira. Como se sabe, a bolsa se move no boato para tentar se antecipar aos fatos, cada vez mais previsíveis.
Com a rejeição ao atual governo alcançando as máximas não apenas em pesquisas de opinião que consultam a média da população, mas especialmente no meio empresarial, o que se projeta é uma mudança no clima de negócios no país, mas não poucos analistas advertem que essa é uma condição necessária, mas não suficiente, para a recuperação. Para tratar da crise econômica, é preciso desfazer o nó político, mas apenas desatar o processo de decisão não garante saídas. O rombo nas contas públicas não será recheado por boas intenções, e não estão descartadas, durante a transição, medidas drásticas para recuperar a arrecadação e cortar gastos públicos.
Para empresários e analistas financeiros, qualquer curso de ação será melhor do que a inação, pela qual o atual Congresso é parcialmente responsável. E qualquer tentativa de acerto será considerada menos danosa do que a sucessão de erros dos últimos meses, agravada pelos sinais de que a prioridade não é a correção da economia, mas as sobrevivência política.