Na economia real, a vida segue dura, com empresas em dificuldade de manter as contas em dia, ajustando quadro de pessoal e provocando elevações na taxa de desemprego. No mercado financeiro, o dólar se acalmou na faixa de R$ 3,60 e a bolsa deve fechar este março que termina hoje como o melhor mês desde dezembro de 1999. Ou seja, não será apenas o melhor março, deve ser tornar mesmo o melhor mês em 17 anos.
O déficit público se aprofunda, mas empresas estatais têm desempenho mais positivo do que as contas do governo. Companhias de capital aberto registram prejuízos recordes e, ainda assim, obtêm polpulda valorização de suas ações. Ao menos nos números, há um divórcio entre o mercado financeiro e a economia real.
Parte da explicação é política, porque bolsa e dólar respondem ao que se convencionou chamar de “rali do impeachment”, ou seja, a melhora dos indicadores inversa ao prestígio do governo. Mas há um pouco mais do que isso. Dos Estados Unidos, vêm sinais de mais cautela na elevação do juro básico no país, o que significa menos pressão sobre o dólar. Nos mercados globais, começa a se desenhar uma discreta melhora consolidada no preço das commodities. Ainda que sem apontar reversão de tendência, surgem indícios pontuais de reação na indústria e no varejo.
Significa que a economia tocou no famoso fundo do poço? Cedo para dizer. Se o panorama externo desanuviou um bocado, não quer dizer que não haverá mais nuvens para embaralhar as perspectivas. E, acima de tudo, qualquer expectativa de melhora no mercado interno está diretamente relacionada à evolução do mercado de trabalho. Ajustes severos foram feitos até agora, mas não quer dizer que estejam esgotados. Caso os índices de desemprego continuem subindo, qualquer esperança de luz no fim do túnel será apenas o trem vindo em sentido contrário.