Aplicar uma política intervencionista exige dinheiro em caixa, tudo o que o governo federal não tem neste momento. Ainda assim, petistas e aliados esperam que o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, faça "estímulos ao crescimento" e "libere o crédito". Ainda antes da posse, prevista para a tarde desta segunda-feira, Barbosa tenta sustentar a imagem que tentou construir depois de sair do Ministério da Fazenda, a de um economista preocupado com o equilíbrio fiscal. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo concedida sábado, uma frase resume seu desafio: "Para quem diz que eu sou gastador, olhem o que eu fiz".
Ainda que quisesse voltar ao receituário desenvolvimentista, Barbosa não teria dinheiro em caixa para adotar renúncia fiscal e crédito subsidiado, nem condições macroeconômicas para baixar juro. A missão do novo ministro vai muito além de provar, com ações, que suas convicções passaram de fato por um ponto de inflexão em 2013. Tem de desmontar um curto-circuito econômico que, sem intervenção, só aumenta seu poder desestruturador. E tem pouco tempo para fazê-lo. Se a crise nasce na política, alimenta-se da economia. E quanto mais se aprofunda, mais complica a situação do governo.
Dívida federal
Evitar que continue avançando em ritmo acelerado. No último ano, o total saltou de R$ 2,29 trilhões para R$ 2,64 trilhões. O tamanho do endividamento brasileiro é um indicador-chave da saúde financeira do país e fundamental para a recuperação do grau de investimento.
Contas públicas
Essencial para a redução do endividamento, a meta de superávit primário para 2016 foi reduzida pela segunda vez, na semana passada, para 0,5% do PIB. Sem a economia para pagar o juro da dívida, o valor é acrescido ao principal e faz a bola de neve crescer. Barbosa garante que vai "perseguir" a meta definida no Congresso. Não fala em "alcançar".
Inflação e juro
Apesar da recessão e da elevação da taxa de juro ao longo de 2015, a inflação não têm dado trégua para o governo. O Banco Central estimava que os preços voltassem para dentro do teto da meta, de 6,5%, em 2016, mas agora o mais provável é que o prazo seja estendido para 2017. Para isso, pode ser obrigado a aumentar ainda mais o juro, em 14,25% ao ano. E, elevando o juro, aumenta a dívida, reforçando o nó da economia.