Mais do que no primeiro turno, o segundo é uma espécie de deseleição. Em boa parte das disputas, vence o candidato menos rejeitado. E rejeição, vamos admitir, é um fenômeno do nosso tempo, porque, seja por ceticismo ou decepções pregressas, a larga maioria das candidaturas não empolga mais o eleitorado. O descrédito, outro nome para essa rejeição generalizada, se materializa no tsunami de abstenções e votos nulos e brancos.
Noves fora algumas exceções, os vencedores também não costumam entusiasmar. Para os eleitos, não faz tanta diferença, mas, para os derrotados, permanece a incógnita: o que fazer para superar a rejeição? Em primeiro lugar, é preciso ter em conta que os menos rejeitados são os menos conhecidos e, portanto, os que serão menos votados. Uma rejeição razoável, portanto, é sinal de vitalidade da candidatura. Mas quando ela passa de 40% é sinal amarelo. Acima de 50%, sinal vermelho.
Uma vez rejeitado, está estabelecido o teto da candidatura
Candidatos sobem e descem nas intenções de votos de forma mais dinâmica que as taxas de rejeição. É a tal opinião formada negativa, muito difícil de reverter. Uma vez rejeitado, está estabelecido o teto da candidatura. Dali, ela não passa, a menos que uma eventual transmutação convença milagrosamente o eleitorado do contrário.
É por isso que um fenômeno como Pablo Marçal tinha boas chances de ir para um segundo turno, mas seria tarefa excepcional vencer as taxas que o prendem como uma âncora ao fundo do mar dos rejeitados. Guilherme Boulos, com alta rejeição, provavelmente seria o futuro prefeito de São Paulo caso viesse a enfrentar o ainda mais rejeitado Marçal. Contra Ricardo Nunes, que não empolga mas que tem rejeição mais baixa, as chances do candidato do PSOL se mostram rarefeitas.
Candidatos se elegem por diferentes razões. Collor faturou a repulsa à corrupção e o cansaço com a inflação, Fernando Henrique surfou a onda do Real, Bolsonaro soube capturar o conservadorismo latente dos brasileiros. Lula foi derrotado três vezes para a Presidência até que, finalmente, entendeu que a rejeição era seu carma. Escreveu uma Carta aos Brasileiros prometendo estabilidade, se apresentou como Lulinha Paz e Amor e deixou para trás boa parte da resistência a seu nome, que, aliás, retornou com força após a Lava-Jato.
A rejeição é a característica mais desafiadora de ser revertida porque não é criada pelos adversários. É resultado de posturas políticas, atitudes pessoais, declarações e alianças, sem contar a própria trajetória do candidato ao longo de anos. Mais recentemente, as fake news têm servido para fomentar um tanto da rejeição, mas o índice será sempre resultado de como o candidato é visto — e não, para azar dele e de seus apoiadores, de como ele se vê.