O marqueteiro favorito do PT, João Santana, pode explicar tim-tim por tim-tim os R$ 30 milhões suspeitos recebidos em contas no Exterior, mas nem a mais comovente das justificativas conseguirá apagar o fato de que alguém embolsou R$ 185 milhões para conduzir a publicidade eleitoral em três campanhas recentes. Há algo de muito errado e podre quando um milionário circo eleitoral bancado pelo Fundo Partidário - nós, portanto - ou por doações que nem sempre ousam dizer seu nome assume o primeiro plano da vida política.
No fundo, o problema não é João Santana, Eduardo Mendonça ou milhares de outros marqueteiros que fazem seu trabalho ou doadores e empresas com interesse em adular o governo. O problema central é que as campanhas aos principais cargos no Brasil se travestiram em programas para a TV a custos estratosféricos e roteiros concebidos para mostrar tudo, menos a verdade sobre o que o candidato fará se eleito for.
Tem-se a propaganda eleitoral gratuita como um fato inexorável, como a chegada do inverno. Não precisaria ser assim. Em muitos países, a campanha se centra em entrevistas, debates, na cobertura pela imprensa, nas redes sociais e no contato direto, olho no olho, com os eleitores. É mais difícil enganar o eleitor, é mais difícil o eleitor se enganar por trucagens e scripts apelativos. No Brasil, vive-se uma aberração, sobretudo desde que Collor de Mello provou, em 1989, que uma superprodução era capaz de eleger um político inexpressivo de um partido mais ainda. E o que é ainda mais grave: as alianças partidárias se subordinam à necessidade de engordar o tempo de TV. Ou seja, a disputa pela telinha sela acordos de ocasião e gera uma feira política onde uma infinidade de partidecos põe a venda seus apoios, contaminando a escolha do eleitor e governos eleitos.
Como distorção adicional, a propaganda gratuita passou a punir os menos abastados - a classe média, sempre que irritada pelo confisco da novela, se refugia nos canais a cabo ou vai navegar na web. Para a pureza do processo eleitoral, o ideal seria acabar de vez com o horário gratuito e suas consequências funestas, como nas cidades onde não há emissoras de TV, onde, nem por isso, candidatos são mal escolhidos. Como é improvável que partidos abram mão da exposição gratuita, os joões santanas perderiam muito de seu protagonismo se, ao menos, a legislação restringisse o horário eleitoral ao estúdio e a candidatos vendendo seu peixe sobre fundos neutros. Os efeitos especiais sumiriam e o custo desabaria. Sobrariam o botox e a maquiagem, mas esses não fazem mal ao Brasil.
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