Adroaldo acorda num sobressalto. Onde está? Por que está todo mundo ali? Que foi que aconteceu? Sua mulher, Helena, não lhe dá atenção. Está lendo o que parece ser um script. Adroaldo, ainda zonzo, examina o local em que estão. Parece um estúdio. E sua família está toda lá. Os filhos, os netos, a filha adolescente Lilica e o namorado Beto. Edineide,a empregada, e a família da Edineide.
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Algumas pessoas ele não reconhece. Outras frequentam sua casa. Meu Deus, a Marialva também está ali! Sua amante, Marialva, e o filho adolescente dos dois, o Maurinho, de cuja existência a Helena nem desconfia! Mas a Helena e a Marialva estão lado a lado. Desde quando se conhecem? O que está acontecendo? Com o choque de ver a mulher e a amante juntas, Adroaldo termina de acordar.
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Helena e Marialva e os outros param de falar quando entra no local um homem que Adroaldo nunca viu antes. Um homem de cara amarrada.Não dá nem bom-dia. Tem um papel na mão, que abana sobre a cabeça para todos verem.
– Os últimos números – diz o homem.
–Caímos mais dois pontos.
Há um murmúrio de insatisfação na sala. O homem mostra outros papéis.
– Fizemos uma pesquisa para saber o que o público está pensando. Do que gosta e do que não gosta. O resultado está aqui. Adroaldo cochicha no ouvido de Helena:
– O que é isso? Quem é esse cara?
Helena diz:
– Para, Veloso.
"Veloso?" Adroaldo não entende. Por que sua mulher o chamou de "Veloso"?
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– Vai haver mudanças, gente – anuncia o homem.
– Radicais.
Para começar, o público não está gostando muito das cenas de sexo da Lilica com o Beto. Adroaldo quase dá um pulo. Sexo? A Lilica com o Beto? Quando? Onde? O homem continua:
– Vamos dar uma reforçada no núcleo pobre. O público simpatizou com a Edineide. Zé, arranja uma complicação da Edineide com a Helena. Uma acusação falsa, qualquer coisa assim, pra Edineide ser demitida e depois se vingar.
– Certo – diz o Zé, um dos presentes que Adroaldo nunca viu antes.
– Ela pode se juntar com a Marialva para tramar contra a Helena. As duas podem descobrir que a Helena tem uma ligação homossexual com a Gildinha.
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Adroaldo não se contém. A Lilica fazendo sexo com o Beto debaixo do seu nariz. A empregada de tantos anos sendo despedida sem que ele seja consultado. E aquela sugestão de que sua mulher é lésbica! Adroaldo explode:
– Espera aí um pouquinho! Mas o homem o detém com um gesto.
– Peralá, Veloso. Eu ainda não terminei. Depois vocês podem se manifestar. Zé, não acho uma boa a Helena com a Gildinha. Já temos o Maurinho gay, o público pode reagir a muita homossexualidade.
Adroaldo atônito. Por que "Veloso"? Que história é essa? E o Maurinho, gay?! O homem agora está apontando para Adroaldo.
– Veloso, o seu personagem Adroaldo não está funcionando. O público não está gostando. Acho que vamos ter que eliminá-lo.
– O quê?
– E tem mais. Você anda atrapalhando as gravações. Com esses seus lapsos de memória, essa sua esquisitice... Zé, bola uma boa morte para o Adroaldo.
– Ataque cardíaco, nos braços da Marialva – diz Zé, em meio a gargalhadas, Adroaldo não ri. Adroaldo está de olhos arregalados. O que está acontecendo?Que história é essa? Que história é essa?!