A Terceirona começa a definir hoje quem subirá para a Divisão de Acesso 2022. No Arthur Lawson, o Rio Grande recebe o Gaúcho, em jogo de duas camisas pesadas. O outro confronto também tem tradição e histórias que mostram o quanto é preciso ser bravo para fazer futebol no Interior. Na Fronteira-Oeste, nas barrancas do Rio Uruguai, o São Borja recebe o Santa Cruz, flamante campeão da Copinha. As histórias por trás desse confronto, a coluna traz a seguir.
O clube do presidente
Jornalista, ex-colega de redação aqui na Zero Hora e no Diário Gaúcho, Tiago Rech virou um presidente pop do Santa Cruz. É ele que tem sido a cara dessa renovação de um clube que passou anos a fio na elite e despencou até a terceira divisão. Escudado por companheiros experientes de direção, Tiago recolocou o Galo nas manchetes outra vez. Primeiro, com o título da Copa FGF em 2020, o primeiro da história do clube. Depois, com sua história do torcedor solitário de um jogo contra o Grêmio, no Olímpico, em 2013, que virou presidente campeão. Ela foi tema de reportagem no Esporte Espetacular, da Rede Globo e ganhou alcance nacional. Aliás, essa trajetória pode até ganhar o mundo. Tiago sonha com a indicação para o Fifa Fan Awards, o prêmio que indica o torcedor da temporada na mesma cerimônia em que são conhecidos os melhores jogadores e jogadoras do mundo.
Mas isso é futuro. O presente do Santa Cruz é encontrar meios de viabilizar a vaga na Divisão de Acesso. O grupo campeão foi mantido, e o investimento, para os padrões da Terceirona, foi alto. Nesta semana, Tiago usou de seu prestígio para mobilizar a comunidade na compra de ingressos virtuais para o jogo de volta, nos Plátanos. Cada ingresso custa R$ 10. Tiago enviou mensagens por WhatsApp com um recado no tom de sua paixão clube. Ei-la:
— De um torcedor solitário a presidente do primeiro título da história do Galo, eu queria fazer um sincero pedido: quem puder, ajuda o nosso Galo nessa decisão! Você vai concorrer a três camisas e salvar vidas de dois hospitais!
Pix do clube: 95.441.002/0001-22
Ou no site: bit.ly/galosemi
Conto contigo!
Está dado o recado do Tiago.
Samuel, o patrocinador
O São Borja que busca o acesso tem a cidade como única relação com aquele time que causava dor de cabeça na Dupla nos anos 1970 e 1980. Aquele antigo, o S.E. São Borja, se licenciou. Esse, o A.E. São Borja foi fundado em 2009, em um projeto de empresários locais para formar jogadores em um CT dentro das terras do arrozeiro Celso Rigo.
O projeto acabou abortado, e o clube se licenciou em 2013. Voltou em 2018 e, logo no primeiro ano, subiu para a Divisão de Acesso. A falta de experiência e a dificuldade de montar um time mais robusto originou o bate e volta. Neste ano, o clube ganhou um patrocinador de peso: o centroavante Samuel Rosa, 30 anos, atualmente no Buriram United.
Samuel é sobrinho de Zé Alcino, ex-atacante da Dupla. Nasceu e se criou em São Borja, de onde saiu para tentar a vida como jogador. Passou pelo Inter e estava no time B, quando esse foi fechado no começo de 2011. Livre, acertou-se com o Fluminense. E de lá ganhou o mundo. Jogou no Los Angeles Galaxy e passou longo período nos Emirados Árabes antes de chegar em janeiro à Tailândia. Porém, nunca se desligou de São Borja, onde sempre volta nas férias. Foi essa ligação com a cidade que o fez se tornar o patrocinador master do clube, com nome na camisa e tudo.
— O Samuel tem uma paixão grande, quer ver o São Borja na primeira divisão. Tem nos ajudado bastante. É o principal patrocinador, mas temos outros que nos ajudam muito também. Para fazer futebol no Interior, tem de ser valente — diz Elvio Feltrin.