Em 2070, terei 93 anos. Assim espero. Fiz o cálculo depois de ler que o Brasil se tornaria inabitável em cinco décadas. No fim das contas, a notícia não era exatamente assim. Especialistas logo consideraram a manchete alarmista. O estudo citado, originalmente feito pela NASA em 2020, não faz nenhuma referência direta ao nosso país. O Brasil entrou nesta história dois anos depois, através de um artigo que se baseou na pesquisa original. Porém, mesmo nesse contexto, não se fala de inabitabilidade total ou eterna. Trata-se de certos pontos específicos, em períodos determinados, alertando sobre os riscos da elevação das temperaturas.
Mesmo com a confusão esclarecida, o tema não pode ser deixado de lado. Nos últimos meses, nos questionamos frequentemente sobre a possibilidade de termos áreas inabitáveis no Rio Grande do Sul por conta das constantes inundações. Depois do pesadelo vivido com a catástrofe recente, ficou evidente: precisamos dar mais atenção às mudanças climáticas. Admito que, em meus 20 anos de jornalismo, nem sempre dei a devida importância a esta pauta.
É essencial que nós, jornalistas, ampliemos o espaço dedicado aos temas ambientais e que as autoridades compreendam a gravidade da situação. Não devemos agir apenas diante de uma inundação ou uma seca prolongada. Aliás, uma nova estiagem está prestes a nos atingir. Estratégias precisam ser pensadas e implementadas constantemente, com vistas ao curto, médio e longo prazo. O que acontecerá se não nos organizarmos agora? Como bem observa o climatologista Francisco Aquino: ciência, tecnologia e ambiente são aliados na projeção do futuro. Não se trata, por exemplo, de pararmos de usar carros a combustão de uma hora para outra, mas de planejarmos um uso mais racional. E o planejamento urbano, será que está recebendo a devida atenção?
Da Amazônia ao Pampa, da Mata Atlântica ao Pantanal, cuidemos dessa riqueza. É nossa, é do Brasil, um país habitável, hoje e sempre.