Uma mensagem postada por um integrante do MDB em um grupo de WhatsApp desencadeou uma crise interna no partido, no final de semana, a partir da reação do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), uma das vozes mais críticas às medidas de isolamento como forma de conter a pandemia de coronavírus.
Terra, que já chegou a dizer que a covid provocaria menos mortes que a H1N1, se irritou ao ser chamado de "escroque" por Bruno Kafka, filiado ao MDB e que já fez parte da executiva do partido em Curitiba.
"Ser assessor de um escroque igual esse Osmar Terra deve ser um dos trabalhos mais degradantes do país. Meus pêsames ao assessor, caso seja um assessor que leia as mensagens", escreveu Kafka em mensagem no grupo de WhatsApp "Militância Virtual do MDB".
Terra reagiu, interpelando extrajudicialmente o autor da postagem. Em notificação , exigiu um pedido de desculpas. A peça é assinada pela advogada Larissa Fleck Sebalhos Silva .
"(...) pela prática, em tese, dos crimes de calúnia, difamação e injúria majorados, NOTIFICA Vossa Senhoria para, em querendo, se retrate do reprovável episódio aqui descrito, por meio de pedido de desculpas no grupo do aplicativo whatsapp “Militância Virtual do MDB” no qual foram proferidas as ofensas, como forma justa, sensata e coerente de arrependimento, devendo o print de tal retratação ser enviado pelo aplicativo whatsapp à procuradora subscrevente", diz o documento.
Na peça, Terra diz ainda que caso não haja retratação no prazo de 72 horas, tomará medidas jurídicas cabíveis.
Reação
A coluna teve acesso à resposta de Kafka, enviada como contranotificação extrajudicial na manhã desta segunda-feira (5). No documento, o emedebista elenca uma série de frases de Osmar Terra que desprezaram a pandemia de coronavírus. E cita também um ex-assessor de Osmar Terra que morreu vítima de covid-19. Segundo o documento, este assessor - Silvio Sebalhos Silva - é pai de Larissa Fleck Sebalhos Silva, advogada que assina a notificação de Terra contra Kafka,
"Nesse mundo, sabemos que tudo é reversível, exceto uma única coisa: a vida das pessoas. A ilustre advogada Larissa Fleck Sebalhos Silva, advogada signatária da notificação, sabe bem disso, eis que o Sr. Silvio era seu pai, vítima de uma política de morticínio brasileiro, propagada pelo Presidente da República e seus pares, como o senhor Terra. Talvez, se o Governo não promovesse a verdadeira carnificina momentânea e tivesse se preocupado com a compra de vacinas quando as mesmas foram ofertadas, o Sr. Silvio, assim como outros milhões de brasileiros (incluindo milhares de pessoas que vieram e ainda virão a falecer), já poderia estar imunizado sem necessitar ser infectado pelo vírus, pilar máximo da estratégia de “imunidade de rebanho”", afirma o integrante do MDB no documento.
— Acredito que se trate de mais uma oportunidade para o MDB refletir sobre a continuidade de Terra no partido. O MDB tem longa história de luta pela democracia e capitaneou a Constituinte de 88, onde o direito a vida é colocado como bem máximo de todos os brasileiros. É hora de reafirmarmos essa história. Somos o partido da democracia, que busca o equíbrio, guardião da constituição. Não há ambiente para este tipo de gente em nossa sigla. Recebi apoio de muitas pessoas desde que fui notificado, foram militantes anônimos, deputados, prefeitos e dirigentes de todas as regiões do Brasil que externaram apoio. Vamos buscar o caminho mais adequado para que este senhor saia do MDB — afirmou à coluna.
Internamente, colegas de partido se incomodaram com a postura de Terra. Alguns foram às redes sociais para expressar o descontentamento.
A coluna procurou o deputado federal Osmar Terra que até esta manhã não havia respondido as mensagens enviadas.