É da natureza humana a revanche. A retribuição do mal, desde os tempos mais primitivos, sempre foi a justificativa para a barbárie, não importando que o círculo vicioso da retaliação alimentasse a fogueira do ódio na busca perene de como magoar mais, e mais dolorosamente.
Era de se esperar que aquele comportamento selvagem, que utilizava a necessidade de sobrevivência como razão e atenuante, fosse sendo superado com as exigências de humanismo impostas pelo convívio social decorrente do aumento exponencial da população e a consequente maior proximidade dos inquilinos.
Vários fatores contribuíram para que essa projeção fracassasse, incluindo desigualdade de oportunidades, heterogeneidade de inteligências e ambições, preconceitos, maniqueísmos, frustrações pessoais e, com grande parcela de culpa, a impunidade.
Difícil determinar em que ponto do desenvolvimento humano a curva comportamental começou a desviar desenfreadamente em direção ao mal, para a perplexidade dos mais ou menos civilizados.
Lembro bem que, quando se começou a discutir a possibilidade de clonagem humana, um temor sempre referido era a perspectiva de se produzir artificialmente o soldado sem medo, este ingrediente que, se não elimina a iniciativa mais desbaratada, pelo menos coloca algum freio na insanidade. Nem imaginávamos o quanto estávamos longe da verdade. Os movimentos radicais trouxeram ao mundo moderno uma nova visão: a da glorificação da própria morte, desde que esta autoflagelação signifique a eliminação de um grande número de inimigos.
Mas a maldade macro, esta que choca o mundo nos atentados internacionais, está também imbricada no cotidiano dos indivíduos mais simples, e por razões sempre menores e pífias. É assim com as pessoas frustradas com o que são, e que se tornam intolerantes com os bem-sucedidos e se supõem amenizados na sua amargura se conseguirem destilar seu rancor, não interessando o quanto a iniciativa mesquinha exponha da sua própria vilania.
Um passeio pelas redes sociais permite a constatação de que pessoas teoricamente aculturadas são capazes das maiores baixarias se isto lhe der a mais tênue sensação de supremacia sobre os argumentos do seu desafeto. Parecem ignorar que, depois de um tempo, o agressor costuma se sentir pior que o agredido.
Agora que todo o mundo está convencido do quanto conseguimos nos superar em maldade e do quanto os modelos atrozes do passado têm sido ridicularizados por uma crescente e insuspeitada capacidade de agredir, há um chamamento candente à reconciliação: não é mais possível seguir nesta escalada. E, se não houver nenhuma justificativa mais altruísta, que seja em nome da nossa autopreservação.
Porque será o caos se, de tacape em punho, decidirmos vingar todos os desconfortos do convívio social.