Duas semanas depois de o professor Adib ter assumido o Ministério da Saúde, encontrei-o em Congonhas. Curioso, perguntei-lhe: "E como é ser ministro?". "É uma sucessão de descobertas e a pior delas é que ministro manda menos do que se imagina!".
Aprendi com ele que se o segundo escalão estiver contra um projeto do ministro, qualquer que seja o projeto, este vai emperrar, porque para todas as propostas haverá sempre uma filigrana burocrática, capaz de impedi-la ou protelá-la à exaustão. E tudo dentro da lei.
Raul Cutait é uma cabeça privilegiada, com uma praticidade exuberante e uma liderança inconteste. Anunciado o convite para que assumisse a Saúde neste futuro ministério, houve uma euforia na Academia Nacional de Medicina, onde aprendemos a admirá-lo. Quinze minutos depois, começaram os questionamentos: "Como um tipo que tem opinião será tolerado nesta gororoba ideológica? Será que eles sabem que o Raul não abre mão do que acredita, por nada do mundo? Seria ótimo que tivéssemos um ministro que conhecesse Saúde e tivesse um projeto de recuperação, amadurecido em anos de reflexão e trabalho, mas será que estamos prontos?".
O anúncio subsequente foi emblemático: ele só aceitaria a nomeação se as escolhas de integrantes de todos os escalões passassem por ele. A revolta foi imediata e o presidente do PP, que o indicara, foi logo comunicando que continuaria amigo dele, mas assim não dava. Impossível fechar porta para todos os conchavos e apadrinhamentos. Como justificar aos amigos que seus indicados tinham sido preteridos só porque eram incompetentes ou inexpressivos. Em que planeta habita esse tipo que acha que competência é imprescindível no serviço público?!
Com o PMDB lambendo os beiços de olho num ministério com dotação bilionária, o PP prontamente reformulou a sua proposta, com a sugestão do nome de um deputado, advogado por formação, mas provavelmente com grande afeição pela Saúde.
Com este nível de discussão, uma única certeza: a saúde pública brasileira não vai conseguir piorar. Não, enquanto o fundo do poço for o limite.