O médico Leandro Boldrini foi condenado a 31 anos e oito meses de reclusão pelo assassinato de seu próprio filho, Bernardo, que tinha 11 anos quando foi dopado e sepultado numa cova rasa, em 2014. Não chega a ser uma surpresa, haja visto que todos os testemunhos narram que ele ignorava a criança, era um péssimo pai. Isso ajudou na condenação.
Boldrini não estava na cena do crime e jura que não cometeu o crime. O assassinato teria sido praticado por sua mulher, Graciele Ugulini, que tinha brigas constantes com o enteado Bernardo. Graciele admitiu o crime e cumpre pena de 34 anos de reclusão, assim como outras duas pessoas que a ajudaram a esconder o corpo do menino num buraco aberto num matagal, no norte do Estado.
Boldrini foi apontado como mentor intelectual do crime hediondo e está preso desde 2014, assim como sua mulher. Ele já tinha sido condenado uma primeira vez, a 33 anos de reclusão. Mas esse julgamento foi anulado porque seu direito a não responder perguntas durante o julgamento teria sido desrespeitado por promotores de Justiça.
Anulado o primeiro júri, Boldrini foi submetido a novo julgamento, que acaba de decidir pela condenação do médico, mais uma vez. Deu a lógica. Antes mesmo da sentença judicial, Boldrini sofreu uma condenação moral, da comunidade onde vivia, Três Passos, no noroeste do Estado. Por ser pai ausente. Por se dedicar muito mais ao trabalho do que ao filho. Por permitir que a sua companheira, madrasta de Bernardo, maltratasse e xingasse o menino.
O próprio Bernardo procurou o Ministério Público, em Três Passos, para se queixar dos maus-tratos e abandono. Qual criança faz isso, se não for verdade? Pesou também contra o médico uma gravação no seu próprio celular (que ele tentou eliminar) e que mostra Bernardo gritando por socorro. O áudio foi recuperado por peritos.
A favor de Boldrini, existiam alguns indícios. O mais óbvio: ele estava a centenas de quilômetros do local do crime. Em segundo lugar, todos os criminosos condenados inocentam o médico de qualquer envolvimento na morte do filho. Asseguram que ele não sabia que Bernardo seria morto. Achou que o menino iria apenas viajar com a madrasta.
Uma quantidade razoável de dúvidas. Fosse um bom pai, talvez a incerteza pesasse a favor de Boldrini (em caso de dúvida, a sentença deve ser favorável ao réu, diz uma velha máxima da Justiça). Como até ele admite que paternidade não era o seu forte, o júri, formado por gente do povo, o condenou. Resta a ele torcer por uma nova anulação, em tribunais superiores.