Humberto Trezzi

Humberto Trezzi

Repórter especial de ZH e colunista na área de segurança pública. Trabalha há 40 anos com jornalismo e recebeu mais de 70 prêmios, entre eles o Esso de Jornalismo nacional.

Polêmica pré-eleitoral
Análise

TSE determina que militares apresentem resultado de checagem das urnas 

Ministro Alexandre de Moraes considera que entrega de relatório a um dos candidatos a presidente configura, em tese, desvio de finalidade

Humberto Trezzi

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Miguel Schincariol / AFP / Wilton Junior / Estadão Conteúdo
Polêmica surge em meio ao segundo turno da disputa presidencial entre Luiz Inácio Lula da Silva (esquerda) e Jair Bolsonaro (direita)

O Ministério da Defesa tem 48 horas para apresentar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cópia de documentos sobre auditoria feita nas urnas eletrônicas no primeiro turno das eleições deste ano. A determinação foi assinada na manhã desta terça-feira (18) pelo presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes.

A ordem de Moraes atende a um pedido do partido Rede e faz eco a outra determinação, do Tribunal de Contas da União (TCU), que há uma semana deu 15 dias para o Ministério da Defesa apresentar os mesmos resultados requisitados agora pelo TSE. No bojo dessa questão estão as suspeitas levantadas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, a respeito de suposta vulnerabilidade das urnas eletrônicas.

Em entrevista a uma rádio nesta manhã, Bolsonaro voltou a cogitar que as urnas são violáveis. Até por isso, ele sugeriu que militares acompanhassem o processo de votação no primeiro turno. A sugestão foi acatada pelo TSE e representantes do Ministério da Defesa testaram 385 boletins de urnas e fizeram biometria em 58 aparelhos. Só que não divulgaram os resultados.

O próprio ministro Alexandre de Moraes, cinco dias depois, anunciou que outros fiscais (como os representantes do TCU) não encontraram problemas nas urnas. Já da parte dos militares não foi divulgado o resultado.

Este colunista perguntou ao Ministério da Defesa o porquê da demora. Extraoficialmente, militares nos informaram que a análise dos técnicos das Forças Armadas é de todo o conteúdo das urnas testadas, incluindo os cargos de deputados federais e estaduais e os números dos que não foram eleitos. Isso representa milhares de informações a serem conferidas e, por isso, não seriam divulgados resultados parciais.

Outras fontes, também militares, falam que o motivo seria outro: Jair Bolsonaro teria recomendado que os testes abranjam também o segundo turno, porque as fraudes poderiam acontecer em qualquer etapa do pleito.

Muita gente considera curioso que o partido do presidente, o PL, foi o mais votado no primeiro turno nas eleições parlamentares, mesmo com Bolsonaro colocando sob suspeita a inviolabilidade das urnas. Caso surjam suspeitas de fraude, elas também questionariam a vitória dos partidários do presidente no primeiro turno? É o que argumentam integrantes da Justiça Eleitoral.

Moraes critica os rumores de que o relatório das Forças Armadas foi entregue ao presidente da República. "Isso parece demonstrar a intenção de satisfazer a vontade eleitoral manifestada pelo Chefe do Executivo, podendo caracterizar, em tese, desvio de finalidade e abuso de poder", escreveu o ministro do TSE, no despacho.

O Ministério da Defesa ainda não se manifestou a respeito.


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