Semana passada o delegado Marco Schalmes, titular da Delegacia de Polícia de Charqueadas, prendeu em flagrante seis criminosos envolvidos no uso de drones para fazer entregas de drogas e celulares aos presídios daquela cidade. Três deles já respondiam a inquéritos, pelo mesmo tipo de crime. Como o colega Ronaldo Bernardi e eu mostramos recentemente, os aparelhos voadores são a maneira mais segura e menos perceptível encontrada pelas quadrilhas para despejar mercadorias ilegais no sistema penitenciário. Sobretudo à noite, quando os fios de nylon nos quais a muamba é pendurada ficam imperceptíveis.
Nas residências alvo dos mandados de busca e apreensão foram encontradas maconha e cocaína que seriam enviadas a presídios, dois drones (um deles com valor de mercado de R$ 50 mil) e diversos materiais utilizados para pilotagem das aeronaves, como controles e baterias extras.
Mas os drones são apenas a última façanha de apenados que fazem de tudo — literalmente, de tudo — para ter acesso a objetos clandestinos. Uma das descobertas recentes foi do major Fabiano Dorneles, diretor da Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), com 2,1 mil apenados e a mais antiga do Rio Grande do Sul, também situada em Charqueadas. Ele e sua equipe apuraram que drogas são inseridas no sistema penitenciário por familiares de presos, dentro de panelas elétricas. O fundo delas é recortado e colado novamente. Fica quase perfeita a camuflagem.
— A lei permite que familiares tragam alguns utensílios para uso dos apenados. É o caso de máquinas de cortar cabelo, TV, panela elétrica para esquentar comida (uma por galeria), rádio e ventilador. Tudo tem de ter nota fiscal da compra e passar por revista. Mas às vezes eles se superam na criatividade — lamenta o oficial da BM.
Pois é. Não bastassem aparelhos celulares e drogas inseridas em cavidades do corpo, corrupção de servidores públicos, lançamento de objetos por cima das cercas (à noite, usualmente) e drones, os apenados contam com sistema de disfarce de mercadorias no miolo de eletrodomésticos. Como os policiais constatam: o que não falta aos detentos é tempo para engenhosidades. Pena que toda essa imaginação não é utilizada para fazer o bem.