O Urso, como costuma ser chamado a Rússia em termos geopolíticos, patina na lama de inverno na Ucrânia. A ocupação relâmpago do território ucraniano é muito mais lenta do que o seria desejável para evitar desgastes. Dirigentes do Ministério da Defesa dos EUA e o próprio ministro da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, asseguram que os russos já colocaram dentro da Ucrânia quase todos os 150 mil soldados que tinham preparado para a invasão. E ainda não conquistaram um quarto do terreno.
Putin repete diariamente que não quer conquistar a Ucrânia, deseja apenas garantir que ela se mantenha "neutra" na disputa econômico-militar que ele trava com o Ocidente. Será? Mesmo que seja isso, não garantirá sua meta sem grande resistência dos ucranianos. Que parece muito maior que a esperada.
Conforme estimativas dos serviços secretos ocidentais, mais de 3 mil russos foram mortos desde 24 de fevereiro, quando começou a invasão da Ucrânia. E a média é de três feridos para cada morto. Em blindados do Kremlin destruídos foram encontradas MREs (refeições prontas para comer) datadas de 2002. Os ucranianos, armados com mísseis antitanque americanos e drones turcos, derrubaram helicópteros e destruíram dezenas de tanques da Rússia, abrindo buracos substanciais na coluna de 65 km formada por blindados que se aproximava de Kiev. Aliás, eles pararam sua marcha, atolados e fustigados por artilharia ucraniana.
Há notícia de que paraquedistas russos teriam tentado uma infiltração em Kiev (uma das primeiras ações na guerra) e foram rechaçados. Na ação a Rússia perdeu o major-general Andrei Sukhovetsky, atingido por um sniper. O mais graduado militar russo a morrer em combate nessa guerra.
Tudo indica que subestimaram a força de vontade ucraniana. Pesa também o fato de grande parte dos 150 mil russos serem recrutas (foram convocados, obrigados a servir). Ele não têm a mesma motivação dos ucranianos, que defendem sua pátria invadida.
A Rússia vai perder a parada? Cedo para qualquer afirmação. Os russos possuem 900 mil militares na ativa e 2 milhões de reservistas (que poderiam ser convocados, numa invasão do seu país, o que não é o caso). Isso é quase nove vezes mais que o contingente militar ucraniano. Além disso, contam com pelo menos 10 mil chechenos ao seu lado e estão prestes a ganhar reforço de voluntários sírios, ressalta o gaúcho Nelson Düring, editor do site Defesanet.com.br (especializado em assuntos militares). Esses estrangeiros seriam usados na fase de combates urbanos de infantaria, que se avizinha em grandes cidades, como Odessa, Mariupol e Kiev.
Düring admite que os mapas mostram uma ampla área conquistada pelos russos. Mantê-la, porém, requereria uma quantidade de tropas de 300 mil a a 500 mil homens. Isso não está disponível.
- Em muitas regiões os russos dominam o eixo da rodovia e alguma faixa lateral. Tudo muito suscetível a ataques contra suas cadeias logísticas, de suprimentos.
Caso a diplomacia (ponteada por ameaças) não ponha um fim à guerra, Düring vê duas alternativas: tentativa russa de ocupar Kiev, como trunfo político. Ou arrasar as cidades com bombardeios, como aconteceu em Karkov. Ambas trariam alto desgaste emocional, econômico e internacional. Ou seja, a incursão da Rússia está longe de ser um passeio.