
Imagine que você está endividado. Acontece, com quase todo mundo. O percentual de endividados no país fechou 2020 em 66,5%, segundo estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). É o maior patamar de endividamento familiar em 11 anos.
- Pois bem, continuemos... pense que a pessoa a quem você deve pode não ser muito paciente e resolva encaminhar a profissionais a cobrança da sua dívida. É o que muitos comerciantes da Grande Porto Alegre fizeram. Terceirizaram a tarefa de honrar débitos a uma facção criminosa oriunda do Vale do Sinos, a maior do Rio Grande do Sul. O resultado é um festival de ameaças, extorsões e risco real de assassinatos.
Isso foi comprovado na Operação Outback, desencadeada na manhã desta quarta-feira (24) pela 2ª Delegacia Regional Metropolitana da Polícia Civil, de Canoas, e chefiada pelo delegado Mário Souza. Ele e o delegado Thiago Lacerda lideraram uma investigação que mostra a terceirização da agiotagem para criminosos profissionais. As ameaças a quem deve incluem colocar capuz na cabeça do sujeito e levar para um passeio no porta-malas, além de outras técnicas não tão suaves.
Não por acaso, na casa de um dos supostos integrantes da facção foram encontrados R$ 700 mil. Na de outro, esmeraldas.
Os jornalistas mais antigos, como eu, lembram dos Homens de Vermelho. Eram valentões contratados pelo comércio gaúcho para cobrar dívidas. Na maioria das vezes, sequer precisavam usar da violência. Bastava usar uniforme vermelho e estacionar sua caminhonete em frente a casa do devedor. Por vergonha, o sujeito dava um jeito de saldar o débito. Mas isso é de um tempo em que vergonha era questão de honra. Como se vê, sempre há um degrau a mais para a humanidade descer.