A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Mais do que uma chance de colocar na vitrine da capital gaúcha a sua produção no campo, estar na 1ª Feira da Agricultura Familiar em Porto Alegre, que começou nesta segunda-feira (4) e se estende até sábado (11), também pode ser um recomeço. É o caso do produtor Sandro Kappler, à frente de uma das 70 agroindústrias familiares que participam desta edição, a Irmãos Kappler. Morador de Roca Sales, no Vale do Taquari, ele teve a venda da produção de chimias e geleias afetada pela enchente que atingiu o município há dois meses. Agora, vê no evento uma oportunidade de começar de novo.
— Nosso forte de mercado eram Muçum, Roca Sales, Encantado, Arroio do Meio, municípios que foram muito atingidos. Agora, com essa feira, a gente tem uma boa expectativa (de comercialização). Viemos preparados com bastante produto. E, se faltar, damos um jeito de buscar mais — afirma Kappler.
Produtor de frutas como uva, goiaba e figo, ele só não teve o pomar afetado por morar em uma parte mais alta do município. O prejuízo ficou nas vendas. Para a feira, além das suas já tradicionais geleias com ou sem pimenta e chimias, bastante conhecidas na região, Kappler trouxe uma novidade para esta primeira edição: a chimia de figo com nozes.
De Nova Roma do Sul, na Serra, a produtora Fernanda Manara, da agroindústria Laticínios Pipo, também teve a comercialização dos seus queijos afetada pela cheia, neste caso, do Rio das Antas. A ponte de ferro que liga a cidade a Farroupilha, pela RS-448, foi destruída pela fúria das águas em setembro. Esse era o principal e mais curto trajeto dos moradores de Nova Roma do Sul até as maiores cidades da região.
— Agora, vamos (vender os produtos) ou via balsa para Veranópolis ou para Nova Pádua, ou via estrada para Antônio Prado, quando chove muito e a balsa fica interditada. Mas é muito mais longe, fica caro para nós — conta Fernanda.
No caso dela e da sua família, além da enchente, outro fator que tem dado dor de cabeça ao negócio há tempos está na matéria-prima. O preço do leite pago ao produtor vem tendo quedas consecutivas. É uma dupla-superação, conta a produtora:
— Nós mantivemos a produção (das 40 vacas), mas a gente não conseguiu baixar o valor do produto, porque os custos dos insumos estão muito altos. Isso fez as vendas caírem um pouco. As feiras estão sendo uma ótima maneira de ganhar mais rentabilidade, porque está bem complicada a situação.
Na primeira edição, Fernanda trouxe queijos coloniais — maturados e não maturados, temperados desde salame até vinho —, queijo coalho e ricota. O último lançamento é a ricota com chimichurri, que promete fazer sucesso, espera a produtora.
Na agroindústria Casa do Sabor, de Paraí, também na Serra, a palavra recomeço aparece desde o seu surgimento. À frente do negócio com o marido, Silvonei Zanão, Raquel Pelegrini conta que a ideia de empreender surgiu de uma necessidade de agregar mais renda à propriedade.
— A gente trabalhava com gado de leite, e o leite sempre foi uma incerteza. E como tínhamos plantação de frutas para consumo, colocamos no papel (a viabilidade) e decidiu começar um negócio (com as frutas) — conta a produtora.
Para a primeira feira na Capital, Raquel o seu esposo trouxeram geleias com e sem açúcar, que vão de abacaxi com hortelã a laranja com gengibre, molho de tomate, "ketchup", molho sweet chilli, molho pesto, antepasto e caponata.
Sobre a 1ª Feira da Agricultura Familiar
Foi aberta nesta segunda-feira (6) a 1ª Feira da Agricultura Familiar em Porto Alegre. O evento que busca trazer para a cidade um pedacinho do campo recebe, nesta primeira edição, 70 empreendimentos de mais de 50 municípios, distribuídos da Serra à Região Metropolitana, e se estende até o próximo sábado (11), no Largo Glênio Peres, centro da Capital.
A Feira da Agricultura Familiar em Porto Alegre foi regulamentada por meio de uma lei municipal do ano passado, proposta pelo vereador Airto Ferronato (PSB), a partir de uma reivindicação da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS). Conforme a legislação, o evento passa a ocorrer preferencialmente toda a segunda semana de novembro, na Capital.
De hoje até sexta-feira, o espaço funciona entre 8h e 19h, no Largo Glênio Peres, no Centro Histórico. No sábado, entre 8h e 17h.