Entidades brasileiras ligadas à produção de carne bovina pedem a revisão do acordo para as exportações à China. A solicitação vem em meio ao autoembargo determinado em razão do registro de um caso no Pará de encefalopatia espongiforme bovina (popularmente conhecida como mal da vaca louca). A medida faz parte do protocolo sanitário estabelecido entre as duas partes, e a suspensão dos embarques se mantém até o esclarecimento de todos os fatos.
O que as representações buscam é rever a necessidade de embargo em casos atípicos da doença, como a ocorrência atual — amostras foram enviadas ao laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) no Canadá, para confirmar o diagnóstico.
Há mais de uma razão para a sustentação da solicitação. Uma delas é o fato de o caso atípico resultar da mutação de uma proteína (príon) que ocorre de forma natural, normalmente em razão da idade do animal. No caso clássico da doença, nunca registrado no Brasil, a contaminação se dá pela ingestão de carne e ossos contaminados.
Em sua manifestação, a Sociedade Rural Brasileira (SRB) pontuou que “um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina não pode ter peso sanitário, uma vez que é uma doença degenerativa e, portanto, sem riscos para o rebanho brasileiro ou para a saúde dos consumidores”. Argumenta ainda que a legislação nacional “proíbe o uso de rações de origem animal para ruminantes”. E acrescenta: “as consequências econômicas e de imagem para o Brasil são infinitamente maiores que a proporção e a importância que o caso merece”.
A auto suspensão traz um prejuízo econômico em razão do peso do país asiático nas vendas externas: mais da metade do total exportado pelo Brasil tem esse destino. O impacto maior é sentido no Centro-Oeste, em razão do volume que sai de lá para a China. No Rio Grande do Sul, o percentual vendido ao Exterior é menor — gira em torno de 10% — , mas o mercado chinês igualmente um tem um espaço importante, aponta Júlio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da UFRGS. Ele avalia que o acordo pode até ser rediscutido, mas não neste momento:
— No meio da crise seria uma casuísmo muito grande. Agora tem de cumprir com todo o protocolo e, depois de normalizar a situação, as entidades sentam com o governo e reavaliam.