Desde o início do ano, a missão de coordenar a força-tarefa que fiscaliza condições de trabalho nos frigoríficos do Estado está aos cuidados do procurador Rogério Fleischmann.
A ofensiva, iniciada em 2014, soma 45 operações e não tem data para acabar. À coluna, Fleischmann conta por que é necessário manter as ações nessas unidades.
Por que manter a força-tarefa que fiscaliza frigoríficos?
Porque não se tem certeza da melhoria das condições. Esse é o motivo pelo qual ocorrerão retornos (fiscalizações em plantas já visitadas), muito embora em várias se tenha feito termo de ajustamento de conduta. Além disso, há plantas não visitadas de empresas grandes. E frigoríficos pequenos, onde não foi feita ação, e a gente sabe que têm problemas também.
Por que as irregularidades persistem mesmo com a ação?
Falta de conhecimento não é. A NR 36 (que regulamenta as condições de trabalho em frigoríficos) foi construída por comissão tripartite, os empresários participaram. A força-tarefa atuou desde 2014, os relatórios são públicos. Sempre explicamos as irregularidades encontradas. Mas há uma cultura estabelecida. O empresário, naturalmente, está focado em outra coisa. O foco dele é o negócio. E isso não é privilégio de frigorífico. Uma pausa, por exemplo, que evita adoecimento, é vista como tempo perdido.
Quais os problemas mais recorrentes?
O campeão é o esforço repetitivo, o não cumprimento de medidas como pausa, mudança de posto. Essa coisa da repetição afeta psicologicamente. Há indícios de assédio moral. Estive em um frigorífico em que perguntei ao médico quantas comunicações de acidentes (que incluem afastamentos) tinha feito em cinco anos e ele disse: “nenhuma”. E isso não fecha. Há setores médicos de frigoríficos que só têm analgésicos. Essa cultura do “somos fortes e resistimos a tudo” tem de mudar.
O setor fala em excessos e falta de bom senso nas cobranças...
A crítica é natural porque o modo de atuação é relativamente novo. Ficamos acompanhando a rotina. A força-tarefa veio para ficar e continuará nos próximos anos.
Os relatórios são fundamentados, e a transparência é total.