A montanha-russa da economia nunca nos deixa na zona de conforto. Sempre terá uma crise. Lembro das sucessivas estiagens gaúchas há quase 20 anos (que, aliás, se repetem). Logo depois, houve a crise de crédito nos Estados Unidos, que se alastrou pelo sistema financeiro mundial. Há quase 10 anos, tivemos a recessão mais longa da história do Brasil. Depois, passamos por uma pandemia! Há poucos meses, uma enchente devastou o Rio Grande do Sul.
Mesmo tragédias ambientais e sociais trazem a reboque crises econômicas. Nosso bolso não fica imune, sente retração de PIB e alta de desemprego, inflação, juro e inadimplência (mesmo quando ela é dos outros, mas deixa o crédito arisco a todos). Defende-se melhor o consumidor que antevê esses reflexos, tem conhecimento para lidar com eles e deixa as suas próprias finanças mais resilientes.
Esse é sempre o objetivo da edição anual dos cadernos Acerto de Contas.
Neste primeiro, vamos falar do bolso dos gaúchos neste ano bastante atípico, das suas dívidas e dos cuidados com as apostas. Mas também trataremos de coisas boas, como viagens com a reabertura do aeroporto e os “empregos verdes” para cuidar do futuro do nosso planeta.
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Opinião da coluna
Um curto prazo austero
A economia do nosso bolso alterna decisões objetivas e matemáticas com outras que são subjetivas e comportamentais. Vamos ao óbvio (que, apesar de óbvio, precisa ser dito): não tem almoço grátis. Quando você antecipa um consumo, paga por isso, seja com o juro da parcela ou com o desconto que perde do pagamento à vista. Ao aceitar a suspensão de um empréstimo, o juro segue correndo e aumenta o saldo devedor, ou seja, o seu gasto ficará maior. Embora seja tentador ficar alguns meses livre do pagamento, só vale aderir ao “benefício” se o orçamento estiver estrangulado. O juro da conta atrasada é pior do que o da suspensão do pagamento. Anote aí, pois isso vale para esta crise ou para qualquer outra. Pode parecer que não, mas as decisões subjetivas são as mais difíceis de tomar quando o assunto é finança pessoal. Perceba que estamos falando de pessoas que perderam casa e emprego. Além desta dor, precisamos dizer a elas que apertem o orçamento, busquem trabalho extra e abdiquem de alguns prazeres. Entendemos o peso da situação, mas elencar prioridades de gastos é essencial para a sobrevivência financeira. Sem ela, todo o resto ficará mais difícil. Com ela, a vida começa a voltar aos trilhos. Como nossa entrevistada disse, as festas de final de ano serão mais enxutas e está tudo bem. Mantenha o foco no médio e longo prazo. Já que estou puxando a corda, peço licença para fazê-lo com um pouco mais de força. Aproveite o comportamento financeiro mais austero e prolongue essa rotina mais simples de gastos. Vá, assim, formando aquele colchão financeiro que amortecerá sua queda em um eventual imprevisto futuro. Se não precisar dele, ótimo! Deixe-o lá rendendo juros e lhe garantindo uma rentabilidade. Os educadores financeiros são modestos ao sugerir seis meses de garantia com sua reserva financeira. Eu, particularmente, já sou mais ousada e defendo que esse dinheiro seja o suficiente para uma guinada de carreira. Essa tranquilidade, meus amigos, não tem preço! Acreditem.
No caderno da próxima quinta-feira (31), vamos falar sobre juros altos, entre outros assuntos.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna