Durou pouco a alegria da queda do dólar quando o Federal Reserve (FED, banco central norte-americano) voltou a reduzir a taxa de juro dos Estados Unidos. Quando isso aconteceu, gerou a expectativa de que os investidores levariam seus dólares a outros países em busca de melhor rendimento, permitindo valorização das moedas locais, inclusive do real.
O dólar agora sobe com força, puxado por fatores internos e externos do Brasil. Ontem, fechou em R$ 5,76. Hoje, começou a tarde vendido a R$ 5,78. Dos Estados Unidos, há a pressão de indicadores de força econômica que apontam que a pressão inflacionária não está contida, o que corta o ímpeto de redução do juro pelo FED. Taxa sobe lá, atrai mais dólares, menos moeda fica em outros países, como os emergentes. Entre eles, o Brasil, o que aumenta o dólar aqui, que eleva a inflação e exige mais alta do juro Selic pelo nosso Banco Central.
Além disso, cresce a previsão de que Donald Trump vencerá Kamala Harris na eleição à presidência nos Estados Unidos. Trump tem políticas econômicas mais agressivas, que tendem a aumentar inflação. Uma delas é taxar importações, o que deixa os preços mais caros aos norte-americanos, além de enviar menos dólares para outros países. Os Estados Unidos são destino importante das exportações brasileiras. Entre os embarques enviados pelo Rio Grande do Sul ao Exterior, só perdem para China.
Já aqui no Brasil, o cenário fiscal não dá folga. Prometidas para logo após as eleições, as medidas de cortes de gastos não saem e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na terça-feira (29) não haver prazo. O mercado reagiu de imediato, com alta de câmbio. Irresponsabilidade fiscal espanta investidores (e seus dólares). Haddad tentou amenizar o impacto nesta quarta-feira (30) dizendo que há convergência com a Casa Civil, mas está cada vez mais difícil acalmar o mercado financeiro.
Mesmo resistente a cortes de gastos, especialmente em políticas sociais, o governo Lula sabe bem o estrago que faz a inflação. Alta de preços levou ao impeachment de Dilma Roussef. Se algo vai pressioná-lo a cortar gastos, será isso, já que não tem ingerência quanto ao que ocorre nos Estados Unidos. A análise da coluna é compartilhada pelo economista-chefe da Quantitas Asset, Ivo Chermont.
— Quando se diz que a Faria Lima está pressionando o governo, no fundo, o canal é esse. Claro que o governo “não está nem aí” para o que a Faria Lima pensa, mas quando você começa a ver juros mais altos que impactam a população, dólar mais alto que impacta o preço da carne… E a carne é um preço simbólico. O pobre não vai poder comprar a picanha prometida na campanha de Lula. Essas coisas vão instigando e incentivando o governo a revisar gastos, que é um dos canais para o dólar voltar para um patamar um pouco mais comportado.
===
Aproveite também para assistir ao Seu Dinheiro Vale Mais, o programa de finanças pessoais de GZH. Episódio desta semana: depósito compulsório da poupança não é confisco
É assinante mas ainda não recebe a carta semanal exclusiva da Giane Guerra? Clique aqui e se inscreva.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna