Foi sob influência de Freud – Além da alma (1962) que decidi procurar um psicanalista, há cerca de 15 anos. Foi um desses momentos raros de descoberta em que somos apresentados a algo que – sabemos de imediato – mudará nossa forma de ver a vida. Eu havia assistido ao filme de John Huston com meus colegas em uma aula de psicologia na universidade e achei que estava ali a solução das angústias juvenis. Em poucos anos, tudo estaria resolvido. Bem, foi uma década de divã e – alerta de spoiler – muitos problemas continuaram. Mas a vida certamente tem sido melhor do que seria sem análise.
Como se sabe, há muitas correntes disponíveis no mercado: os freudianos, os lacanianos, os junguianos e tal. Mas nem tudo é simples. Alguns freudianos são até mais kleinianos. Também tem a psicoterapia de orientação analítica. Correndo por fora da psicanálise, vem a terapia cognitivo-comportamental. Não é apenas uma loucura de psicanalistas e terapeutas. Os pacientes também se identificam com determinadas correntes, por vezes experimentando mais de uma – o que não é nenhum pecado, embora haja quem pense que é.
Alguns pacientes acreditam que devem a certa orientação psicológica uma fidelidade religiosa ou conjugal. Certa vez, conheci uma estudiosa que sabia exatamente quantas vezes certo conceito aparecia em um texto de Freud. Mas nem os fiéis religiosos são tão rigorosos assim (pense no nosso sincretismo brasileiro) e nem a fidelidade conjugal é tão... Bom, você sabe.
Talvez por isso tenha me surpreendido ouvir recentemente um terapeuta dizer que é eclético. Quero dizer, não lembro se a palavra foi essa, mas certamente é uma boa definição. Era minha hora de rever conceitos, inclusive em outros domínios da vida. Um exemplo: por que alguém no mundo acadêmico deveria aderir a uma corrente teórica pela vida inteira? Uma pensadora da cultura como Gayatri Spivak nos mostra que você pode conjugar desconstrução, feminismo e marxismo. A pergunta é: por que não?
A vida é muito curta para frequentar apenas uma vertente psicológica, uma teoria acadêmica ou uma escola econômica. O ecletismo, dizem os estudiosos, é uma característica da pós-modernidade. Vivemos um tempo em que muitas visões de mundo coexistem. Talvez tenha sido sempre assim, mas hoje temos uma boa desculpa para não ser ortodoxos.