![Norberto Duarte / AFP Norberto Duarte / AFP](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/25518331.jpg?w=700)
Como repórter, acompanhei de perto o surgimento de Ronaldinho. E foi uma das coisas mais fantásticas que vi na minha carreira. Um talento absurdo. Em 1998, nos treinos no gramado suplementar do Olímpico, já era possível perceber que estávamos diante de um daqueles raros fenômenos do mundo da bola. Em 1999, apareceu como um furacão, liquidando o Inter de Dunga em um Gre-Nal e logo depois recebendo a convocação de Vanderlei Luxemburgo para disputar a Copa América pela Seleção Brasileira. Um golaço contra a Venezuela foi o cartão de visita para a sua extraordinária carreira internacional. Ali ele começou a ganhar o mundo.
Eu estava no Paraguai cobrindo esta Copa América. Lá foram muitas conversas fora do ar com Ronaldinho. Era um tempo diferente, sem grandes barreiras entre jornalistas e profissionais do futebol. Sempre tive uma ótima relação com ele. Tanto é que, em 2004, fui recebido no Camp Nou para uma longa entrevista exclusiva para a Rádio Gaúcha dias antes do craque ser eleito pela primeira vez como o melhor jogador de futebol do mundo.
Em todos estes contatos, a figura de Assis foi muito presente. Com a morte prematura do seu pai, quando tinha apenas oito anos, foi Roberto Assis Moreira, o irmão mais velho, que assumiu as responsabilidades da casa e virou o seu empresário.
Tudo na vida de Ronaldinho teve a mão de Assis. As coisas positivas e negativas. A primeira grande polêmica veio com a saída do Grêmio. O contrato terminou, o craque foi embora e o clube ficou de mãos abanando. A lei permitia isso, mas talvez não fosse necessário agir daquela maneira com o clube que o criou. Depois, vieram vários outros exemplos de grandes jogadores que deixaram o Grêmio, fizeram fortuna, mas fizeram questão que o clube também fosse recompensado.
Os anos de glória foram no Barcelona, com atuações memoráveis, títulos e idolatria. E sempre com Assis por perto. Depois da Copa do Mundo de 2006, não conseguiu manter o mesmo nível. Mas ainda teve bons momentos em clubes como Milan, Flamengo, Atlético-MG e Querétaro-MEX, até encerrar a carreira em 2015 no Fluminense.
Nos últimos anos, vieram também alguns problemas, como uma condenação por crime ambiental em Porto Alegre, e acusações por um esquema de pirâmide financeira. Sempre com a participação de Assis.
Durante todo este tempo observei esta relação com curiosidade. Mas, afinal, qual é a influência do irmão em tudo que aconteceu? É absolutamente natural o respeito pelo irmão mais velho depois de uma tragédia familiar. Eles tiveram uma história de muita luta para vencer.
Só que o comportamento de Ronaldinho merece uma atenção especial. Ele parece nunca se comprometer com nada, sempre tem o mesmo sorriso para qualquer situação e em todas as entrevistas diz as mesmas coisas. A frase "estou muito feliz" é padrão nas conversas com jornalistas. Tudo parece artificial, preparado, como se fosse um robô repetindo as coisas que lhe foram ensinadas.
Em conversas com pessoas que têm alguma relação com a família, todas têm a mesma impressão: Assis comanda tudo na vida de Ronaldinho. Esta é a impressão de empresários, dirigentes que negociaram com ele e jogadores que tiveram convivência com a família.
A prisão no Paraguai, por ironia do destino no mesmo país que ele apareceu para o mundo pela Seleção Brasileira, pode ser um recado importante. Ronaldinho completará 40 anos em março. De criança não tem mais nada. É um ídolo mundial. Ainda é tempo de mudar, assumir as rédeas da sua vida e se tornar um exemplo para todos.