O torcedor do Inter merecia uma classificação assim. Tranquila, pacífica, aos bocejos, sem dor ou sofrimento, com tempo para fazer selfie no Beira-Rio de tão fácil e desassustada. E com um Enner Valencia fantástico, que brinca de jogar futebol.
Com os dois golaços desta terça — detalhe: um de canhota, outro de pé direito —, ele já soma quatro na Libertadores. Dois a zero. Três no agregado. Oito anos depois, o Inter está numa semifinal de Libertadores, com R$ 14 milhões de prêmio por chegar entre os quatro melhores da América.
A ótima notícia é que foi sem susto, trauma ou risco. Em ritmo de treino, o Inter não se atirou à frente, dosando a parte física e obrigando o Bolívar a se expor. Maturidade, eis o nome desse cozimento boliviano em fogo baixo. A surpresa foi Hugo Mallo no lugar de Vitão, em nome de uma melhor saída de bola. Se foi arriscado ou não, sequer deu para ver.
Sem a altitude ao seu lado, o Bolívar foi presa fácil. A 11 minutos Valencia já fazia ao nível do mar o que fez em La Paz com 15. Na primeira chance, zás. Eram dois contra cinco, mas Wanderson deu o passe de ponteiro e Valência fuzilou, como centroavante. Incrível precisão. Ele tem sido letal. Não precisa de muitas chances para decidir.
O Bolívar se limitava ao jogo físico, aéreo e com alguma violência provocativa, para mexer no jogo pelo mental. Mesmo perdendo por 1 a 0, não subia linhas. Não pressionava. Com menos qualidade e diante de um adversário superior, focado e organizado, o Bolívar nunca ameaçou, consciente do oceano que o separa desse Inter de Coudet.
Contra o River, o herói Rochet. Contra o Bolivar, Valencia. Se é verdade que um time começa por um grande goleiro e termina no artilheiro, esse Inter renascido das cinzas vê, sim, uma luz que brilha logo ali. Conseguirá alcançá-la em três jogos?