Uma lista de gastos da bancada federal gaúcha com despesas de aluguel de carro ajuda a explicar o peso pesado do orçamento da Câmara dos Deputados, estimado em R$ 6,5 bilhões neste ano. A verba para este tipo de regalia não é, nem de longe, o grande responsável pelo gigantismo do orçamento. Mas é mais uma revelação de incompatibilidade das despesas diante da realidade das finanças brasileiras.
Os deputados federais gaúchos, revela a coluna de Rosane de Oliveira, consumiram R$ 3,3 milhões em despesas com aluguel de veículos. O deputado que mais gastou chegou a R$ 250 mil, a que menos gastou, não usou a verba para locação de veículos. Faz algum sentido, em plena crise, abrir os cofres para dar de mão beijada o acesso a R$ 40 mil por mês cada um dos 513 deputados? Nem falo de salários, verba de gabinete e etc.
O famoso "cotão" é uma mordomia para turbinar mandatos que não tem mais justificativa. Mais que gastar com aluguel de carros, alguns de luxo, como o modelo BMW, o desprezo pelo bom gasto do dinheiro público encontra na desfaçatez dos argumentos um motivo adicional de revolta.
Questionado sobre os gastos, o deputado Nereu Crispim, o campeão do aluguel de carro, atribui o problema à imprensa — que velha mania de a imprensa questionar gastos públicos, não é mesmo? O deputado, junto com outros amantes de carros de luxo, não se dão sequer ao trabalho de fazer um exame de consciência sobre o que representa um gasto desses. Debocham do brasileiro médio que está remando para contornar a crise e garantir o pagamento de uma carga tributária pesada respondendo que, sim, este é o padrão deles e vão continuar andando à vontade por aí com carros possantes para fazer política. A reação destes parlamentes, aliás, a maioria dos gastadores amantes do luxo está no primeiro mandato, indica que nada vai mudar tão logo nas esferas do poder. Ainda mais em ano que antecede eleição.