O presidente da Câmara dos Deputados deu a senha do que pode ser uma ideia interessante para o serviço público brasileiro: reduzir, durante a pandemia de coronavírus, os salários de quem ganha mais. Seria um corte linear, de ponta a ponta, pegando todos os poderes.
Em condições normais, seria uma proposta encarada como demagogia e ficaria esquecida em alguma gaveta. No auge da crise econômica gerada pela pandemia, contudo, é uma ideia que precisa prosperar.
Cortar temporariamente os salários de quem ganha mais nos três poderes não é proposta absurda. Faz sentido. Seria a cota de sacrifício de categorias que estão protegidas pela estabilidade funcional, que não terão redução de jornada e cujos salários são os mais altos.
Neste bolo estariam deputados, senadores, juízes, desembargadores, promotores, procuradores e as carreiras com vencimentos mais elevados do Poder Executivo. Rodrigo Maia admitiu essa possibilidade a partir de uma provocação do presidente Jair Bolsonaro:
— Se todos os poderes topassem cortar um valor que seja, por seis meses, 10%, ou um percentual maior por menos tempo, para garantir os R$ 600, eu tenho certeza que o Parlamento vai participar e vai defender. Não tem nenhum problema — afirmou Maia.
A ideia surgiu a partir da discussão sobre a origem do dinheiro para pagar a extensão do auxílio emergencial para a faixa da população mais pobre.
Cortar os salários em tempos de pandemia não seria uma invenção brasileira. A Nova Zelândia — sempre a Nova Zelândia, que inveja! — foi a primeira a dar o exemplo. O debate chegou na Austrália.
Na Índia, ainda em abril, políticos cortaram temporariamente os salários em 30% para ajudar a custear a ampliação da estrutura de saúde. No Japão, o corte foi de 20%. Quando a pandemia começou e o Líbano ficou sob lockdown, nas redes sociais os libaneses mantiveram em alta a #Youwontgetpaid (Você não será pago), o que forçou muitos políticos a doarem os salários para hospitais.