O brasileiro é um sujeito criativo, sempre com a sua forma de encarar as novidades que se apresentam. O futebol sempre foi o esporte mais popular no país. Desde a chegada, no início do século passado, dedicamos essa nossa característica ao trato com a bola. Hoje, no entanto, passados mais de 100 anos, estamos nos superando. O país do futebol resolveu criar um novo esporte: o Brasilbol!
O tom irônico, por óbvio, serve para dar ênfase ao que está acontecendo com o futebol por aqui. E eu não estou falando do calendário apertado, dos altos salários, das vendas dos talentos cada vez mais jovens. A análise se dá a mais embrionária razão de se sentir o jogo. Pois o brasileiro, e a sua incrível necessidade de dar um “jeitinho”, está acabando com o futebol. E está fazendo isso através da emoção, da paixão.
Você já parou para pensar que não se comemora mais um gol como antes? O que era o ápice do jogo, virou um capítulo antes da decisão de uma comissão, que, vendo monitores, procura um erro para recomeçar a partida sem que se altere o placar. A cada escanteio, os milhões de torcedores, ainda em busca de se adaptar ao novo esporte, procuram empurrões e torcem para que algum dos tantos juízes em alguma sala do estádio decidam o rumo daquele jogo.
O futebol era um esporte de contato e de busca de espaço. Pois hoje, tudo é apenas esperar pelo contato. Feito isso, definidos em frames (ou fotos), os juízes decidem se havia, ou não, intensidade para derrubar, e, assim, definem mais uma partida.
Enquanto isso, para piorar, criamos milhares de analistas de arbitragem e damos ainda mais espaço para árbitros e ex-árbitros. Definimos assim, com essa estratégia, ainda mais poder a quem define os rumos de um jogo. No antigo esporte, que ainda se pratica em outros lugares do mundo, jogadores e treinadores decidiam as partidas. No Brasilbol, essa responsabilidade está com os árbitros.
Infelizmente, podemos tratar essa coluna com um certo exagero e até uma dose de bom humor, mas, na prática, não existe nenhuma mentira no que foi dito. O Brasil, de fato, está transformando o futebol e ninguém mais está entendendo o que pode acontecer em um lance.
Assim estamos caminhando e o futuro todos conhecem. Dentro de alguns anos, deixaremos de ser o país do futebol exatamente por termos esquecido da sua essência. Ninguém muda um esporte tão encantador impunemente.