A manhã de domingo (3) tinha tudo para ser apenas objeto de pautas positivas. Um jogo do Grêmio em dia de chuva, no entanto, escancarou todas as dificuldades que assolam o torcedor que frequenta a Arena e os moradores do bairro Humaitá.
Os mais de 10 anos da relação do novo estádio do Grêmio com a sociedade expõe a fragilidade e a pequenez dos entes que deveriam cuidar, antes de tudo, das suas comunidades. Me refiro aqui ao Grêmio, à empresa que gerencia o estádio, à prefeitura de Porto Alegre e a EPTC.
Vergonha! Escândalo! Esse é o mínimo. E se pararem para pensar, verão que a culpa de fato está em todos os envolvidos. Os fatos falam por si.
A EPTC foi incapaz de organizar o trânsito, mesmo sabendo há um mês que uma região da cidade iria receber um evento com mais de 40 mil pessoas. Quem se prejudica? As pessoas que pagam os impostos para ter um serviço básico de organização do trânsito.
A empresa que gerencia a Arena não conseguiu sequer ampliar o número de funcionários na revista prévia que poderia dar maior vazão ao público que, obviamente, chegaria para ver o início de um evento que tem hora marcada. Este é apenas um ponto básico de desorganização que atingem os péssimos gestores que administram o estádio.
O Grêmio, por sua vez, silencia. Não cobrar melhores serviços de quem deveria fazer cria uma ideia de que o clube alimenta o problema. O incrível desta lógica é que quem está na ponta disso é o seu próprio torcedor. É a torcida que está pagando essa conta e o diretoria do clube precisa cuidar dos seus consumidores.
Por fim, a prefeitura. O incrível descaso com os bairros que circundam a Arena não tem nenhum tipo de justificativa. Casas alagadas, crianças expostas ao esgoto e falta de saneamento, revelam abandono. A pobreza extrema em alguns pontos não pode fazer parte da realidade de uma cidade como Porto Alegre e essa discussão deveria tirar o sono dos gestores da cidade.
O resumo, e essa é a parte mais triste, é que todos os citados transferem as culpas. Todos tentam fugir da responsabilidade. Todos buscam aliviar as suas ações dando a ideia de sempre enfrentarem dificuldades maiores. Está na hora de ter vergonha na cara. E todos precisam ter.
Afinal, escolhemos lideranças por quê? Exatamente para isso. O completo desleixo na questão da Arena, por todos os lados, empobrece o discurso e dificulta a solução. Se todos fizessem minimamente a sua parte, as pessoas seriam beneficiadas. E esse deve ser o principal objetivo: as pessoas, sejam elas gremistas ou não.
Uma das maneiras de se começar a mudar essa é lógica é ter vergonha. Quem a tem, tem vontade de mudar. A vergonha dos protagonistas, neste caso, é o único combustível possível para este problema. Resta saber se esse assunto gera vergonha nos seus próprios criadores.
É simples. Façam o básico. Pensem pequeno. O "ótimo" não pode ser inimigo do "bom" e os problemas dessa questão superam o "terrível". Organizar filas no estádio, disponibilizar inteligência no trânsito, criar um escoamento no bairro e ser vigilante não pode ser algo de outro mundo. Se fizerem o básico, já estará melhor. Mas claro, sem ter vergonha, nem o mínimo consegue ser feito. E essa é a realidade da Arena neste momento.