O esporte é feito de ídolos. Não gosto da expressão herói. O ato de heroísmo é algo de outra dimensão. Mas classificar um esportista de gênio, é possível. Pois ser genial é ser alguém fora do padrão, ser capaz de fazer o que poucos conseguem. E nesse patamar que está inserido Rafael Nadal, 38 anos.
Nadal não foi o mais técnico entre os jogadores que surgiram no circuito. Mas ele é de uma capacidade incomparável no quesito entrega, acima de tudo, um competidor. Estar em quadra é uma extensão do próprio corpo e foi exatamente ele, o corpo, que fez o espanhol tomar a decisão mais complicada da carreira de um atleta: a de parar.
Aposentadoria. Sim, Nadal será um aposentado a partir de novembro, assim que pela última vez deixar a quadra durante a fase final da Copa Davis. E com certeza em um evento emotivo, ainda mais sendo jogado em seu país.
Tive o privilégio de assistir ao campeão de 22 Grand Slam jogar. E não apenas pela televisão, o que aumentou ainda mais minha admiração pelo jogador e pelo cidadão. Nos Jogos Rio-2016, após o sorteio das chaves, foi ele quem concedeu entrevista coletiva. Fui vê-lo enfrentar o brasileiro Thomaz Bellucci e levar o ouro nas duplas. E é inegável que, quando um esportista do tamanho de Rafael Nadal está em quadra o ambiente se transforma. A respiração do público é percebida, as reações são sentidas nas arquibancadas.
A última vez que pude acompanhá-lo foi em novembro de 2022, em Belo Horizonte, quando ele veio fazer um jogo de exibição contra o norueguês Casper Ruud. Era o final de uma temporada, onde ele havia superado os problemas físicos e conquistado o Australian Open e Roland Garros. A perspectiva era de um prolongamento de carreira. Mesmo assim o questionei sobre o futuro e se ele tinha ideia de quando iria parar. Bem humorado me perguntou se queria aposentá-lo e logo depois respondeu: "Foi um ano positivo, com dois títulos de Grand Slam. E quando isso acontece, mesmo com os problemas, você não pode pensar em parar".
Infelizmente, no começo de 2023 uma nova lesão apareceu. Foi a senha para que o mundo esportivo começasse a se acostumar a não vê-lo mais em quadra. As aparições foram poucas desde então. Mas a certeza segue a mesma. Jogadores geniais como Rafael Nadal transformam um ambiente e são capazes de mudar a percepção sobre o esporte.