Campeão meio-pesado do UFC em 2009, Lyoto Machida, 45 anos, passou por Porto Alegre na segunda semana de dezembro: cumpriu agenda profissional, conheceu a Arena do Grêmio e, claro, concedeu entrevistas na Rádio Gaúcha e em GZH. No nosso bate-papo, o atleta e empreendedor, que nasceu em Salvador, na Bahia, mas cresceu em Belém, no Pará, fala sobre autoconhecimento, controle da mente, filosofia de vida e o que aprecia no Rio Grande do Sul.
Em seu perfil no Instagram (@lyotomachidafw), que conta com mais de 1,3 milhão de seguidores, você compartilha conteúdos direcionados ao controle mental e autoconhecimento. Como decidiu começar a produzir esse tipo de conteúdo?
Compartilho ali tudo o que eu vivo. Comecei a entender que eu poderia ajudar as pessoas, já que o meu ritmo de lutas começou a diminuir, já não estava mais na ativa como antigamente. Tenho três palavras que eu vou gosto muito: construir, conquistar, compartilhar. Então eu construí o cenário para a minha vida profissional. Eu conquistei, em 20 anos de carreira, o topo do mundo como campeão e, agora, nada mais justo do que compartilhar. Só que, para compartilhar a técnica, eu preciso estar do lado para isso. Já tive uma academia, que vendi para o meu irmão, porque quero me dedicar mais para o online. Acredito muito na mente, quero contribuir com mais pessoas. Nem todo o mundo luta, mas todo mundo pode ser um lutador: luta contra seus medos, sua ansiedade, seus desafios diários. Eu entendi que a arte marcial é uma ferramenta muito grande quando é usada na vida cotidiana, eu a uso para a minha vida e em tudo o que eu fiz. Todo mundo vive em cenários diferentes, mas com as mesmas situações, medos, desafios. A arte marcial ensina a controlar isso. É lógico que eu também estudo muito sobre o assunto. Eu acho que a contribuição precisa ser correta.
O que a arte marcial tem a ensinar para as pessoas que não são atletas?
Não há nada que se compare à arte marcial em seu conceito filosófico, do esporte para a vida. Por exemplo, se for falar em coragem: o que pode estimular mais a coragem de um garoto do que a arte marcial, né? Ele vai enfrentar um adversário maior, às vezes, também estimula a resiliência, de estar perdendo e ter que se superar, ter que ganhar. A humildade é outro ponto, de ele chega na academia todo arrogante, porque é mimado pelos pais. Aí, chega na academia, luta com outro garoto que é mais humilde financeiramente, às vezes, mais que dá "um trato" nele na hora da luta. Ele se dá conta de que não é tudo isso. A gente aprende com isso, esse é o objetivo.
Quando não está envolvido com eventos profissionais, o que curte fazer?
Eu gosto de ficar muito com a minha família (Lyoto é casado com Fabyola Machida, eles têm dois filhos, Taiyo, que nasceu em julho de 2008, e Kayto, que nasceu em novembro de 2010), gosto de viajar, acho que viajar é conhecer pessoas, sou muito social, mas com as pessoas certas, as que pensam parecido comigo.
Qual foi o momento mais difícil e o mais incrível da sua carreira?
Se eu for para o lado profissional, lógico, foi o momento em que me tornei campeão, porque isso é um sonho, como falei, é uma construção. E, muitas vezes, as pessoas não entendem isso. Acham que vão conseguir ficar ricas da noite para o dia, conseguir uma transformação da noite para o dia, e não é assim. Eu passei por isso na minha pele, no dia a dia, treinando, me frustrando, perdendo, mas conquistei aquela etapa. Então, profissionalmente, foi esse lado que pesou bastante, e veio o cinturão. Momentos de dificuldade sempre existiram e vão existir. Agora, o mais importante é a percepção que você tem daquele momento, de querer enfrentar aquele desafio e solucionar os problemas de uma forma mais simples.
O que você mais gosta de fazer quando está em Porto Alegre?
Gosto de mate, gosto muito de churrasco. Sou muito amigo do Fabrício Werdum (porto-alegrense, que foi campeão peso-pesado do UFC em 2015). Nas vezes em que venho para cá, no Sul, ele me recebe e sempre quer fazer churrasco, tem muita resenha, bate muito papo comigo. Mário Reis também é outro grande amigo de Porto Alegre. Então, eu tento viver o mundo da região, quero saber o que as pessoas fazem de diferente.