O que você sabe sobre a voz imponente que comanda o Gaúcha Hoje? O programa celebra 45 anos nesta primeira semana de dezembro na Rádio Gaúcha, e Antônio Carlos Macedo faz parte de 21 deles (atualmente, também apresenta o Chamada Geral — Primeira Edição).
O gaúcho de Esteio, 68 anos, que completa cinco décadas de profissão no ano que vem (na Gaúcha, já são 40 anos) tem inúmeras histórias sobre rádio, jornalismo e coberturas especiais. Mas neste bate-papo, fomos além: Macedão — como é carinhosamente chamado pelos ouvintes — conta como conheceu a esposa, Cristina, e fala sobre os filhos, o carinho pelos pets e momentos marcantes de sua trajetória.
São quase 50 anos de jornalismo, 40 de Rádio Gaúcha e 21 no Gaúcha Hoje. O que mudou na sua forma de comunicar de lá para cá?
Quando eu comecei a fazer o Gaúcha Hoje, ainda tinha aquele distanciamento entre apresentador e público, aquela coisa assim: a gente falando para alguém que está lá. Aqui na rádio, desde 1997, no Chamada Geral, passei a colocar o ouvinte como parte desse processo. Trouxe o ouvinte para o horário nobre do jornalismo, até então, entravam nas madrugadas ou no futebol. Mas como pauta de jornalismo, foi a partir de 1997. E dei sequência a isso no Gaúcha Hoje. Hoje, por causa das redes sociais, as pessoas estão muito mais próximas, eu procuro, no programa, fazer isso: uma conversa, com as pessoas dentro desse espaço, como se estivesse ali com a gente, sem aquele afastamento do radialista, as pessoas fazem parte do nosso cotidiano. Essa, para mim, é a principal mudança nesses mais de 20 anos no Gaúcha Hoje.
Envolver os ouvintes com a notícia é o principal mérito da Rádio Gaúcha?
Sim. A nossa matéria-prima não é a música, não é o assistencialismo, não é o entretenimento, a nossa matéria-prima é a notícia. Então, a gente conversa sobre notícia, esse é o grande diferencial da Rádio Gaúcha. As pessoas querem se sentir parte da conversa. Como a gente já faz isso desde os anos 1990, hoje é uma coisa absolutamente natural, todos os programas são assim. A gente usa a notícia para comunicar, e eu acho que esse é o segredo. Acho não, tenho certeza de que esse é o grande segredo do sucesso da Gaúcha.
Coleciona algumas histórias sobre ouvintes, né?
Com os ouvintes, tem muita coisa engraçada. Eu comecei no rádio na época em que não tinha mensagem, era tudo pelo telefone comum. Aí, uma vez, por exemplo, a gente estava falando, em um quadro de medicina, sobre mentira, como pode se tornar uma doença. Nisso, ligou um senhor dizendo: "Isso foi pra mim, isso aí que vocês estão falando, me chamando de mentiroso, e não sou mentiroso, não vou deixar isso assim. Vou tomar providências, vocês vão ver". Questionei: "Amigo, deixa eu lhe perguntar uma coisa certa, o senhor é um mentiroso? Se não é, não fique preocupado, não foi com o senhor". Consegui resolver, no fim, ele me deu razão. Outra muito engraçada foi quando um ouvinte ligou e disse que tinha uma queixa contra o Ministério da Indústria e Comércio. Perguntei qual era a queixa, e ele: "É contra o Bombril, que já não dura mais, a gente lava uma vez e já fica enferrujado". É cada uma...
O que tira a sua concentração quando está no ar?
É impressionante, a gente recebe cem mensagens elogiosas, cem mensagens favoráveis, e, de repente, entra uma sem-noção: essa mensagem sem-noção nos desconcentra. Não deveria ser assim, porque, afinal, tem aprovação da maioria, mas acontece.
Quais foram as coberturas mais marcantes?
Cobri cinco Copas do Mundo (México, 1986, Itália, 1990, Estados Unidos, 1994, França, 1998, e Coreia do Sul/Japão, 2002) e três Olimpíadas (Barcelona, 1992, Atlanta, 1996, e Sidney, 2000). A Copa do Mundo de 1986 foi muito marcante, foi a minha primeira. Depois, sem dúvida alguma, a Olimpíada de 1992. O vôlei do Brasil ganhou medalha de ouro, foi uma festa como se fosse vitória de Copa do Mundo. Fui o único a documentar pela rádio. E ainda a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, depois de anos de jejum, o Brasil ganhou o tetra. E teve um outro momento marcante, mas muito triste. Nesse dia, em 2013, eu não queria ser jornalista: foi a cobertura da tragédia da Boate Kiss.
E na vida pessoal? Quais são os momentos emocionantes?
Primeiro, a forma como conheci a minha esposa, Cristina. Foi em 1979, durante uma cobertura jornalística lá em São Borja. Na volta do Leonel Brizola (1922 — 2004) ao Brasil. Tinha quatro colegas que deveriam ser escalados para essa cobertura, mas todos tiveram algum problema, eu acabei sendo escalado. Aí, conheci a Cristina, estamos juntos desde aquela época: história de novela, o enredo todo de chegar em São Borja para algo que não era para mim, conhecê-la justamente lá, que morava em Porto Alegre, mas foi para São Borja por causa da volta do Brizola, pois o pai dela já tinha avisado que seria histórico, e foi, para a gente (risos). Depois, os nascimentos dos filhos: Rafael, que fará 40 anos, a Bibiana, que tem 31, e o Guilherme, que está com 29 anos.
A Cristina é dona de um restaurante em Porto Alegre. Você gosta de cozinhar, dá pitacos no cardápio?
Não dou pitacos no restaurante, mas gosto de cozinhar. No domingo, sou em quem cozinha. Sou bem simples, gosto de assar churrasco, mas também, de fazer filé acebolado, saladas. Durante a pandemia, me tornei o cozinheiro oficial da casa: aprendi a fazer feijão e uma série de outras coisas do dia a dia. No restaurante da Cristina, só vou almoçar (risos). Durante uma época, fui o porteiro dela (risos), ficava ajudando ali na frente com as comandas.
Além de cozinhar, o que curte fazer quando não está trabalhando?
Gosto de ouvir música. Ouço tudo, mas o que eu gosto mesmo é de rock. Minha banda preferida é Beatles. Gosto de Rolling Stones. Ouço muito heavy metal. Quando estou no carro, coloco uns bem pesados e vou curtindo, sacudindo (risos). Claro, mas quando estou sozinho (risos). Cristina não gosta, tem uma playlist bem grande de samba e pagode. Ela e o nosso filho mais novo são pagodeiros. Os churrascos, lá em casa, são ao som de Exalta, Thiaguinho, Só pra Contrariar.
Em função do seu horário na rádio (o Gaúcha Hoje começa às 5h), como é o dia a dia em família?
São ritmos independentes. Eu acordo às 4h20min. A esposa acorda na hora em que tem que acordar. A única coisa diferente é que, durante a semana, não assumo compromissos sociais, só nas sextas-feiras. E, à tarde, dou uma dormida para descontar o sono. Agora, em casa, estamos só eu, Cristina e os cachorros.
Vocês têm quantos pets hoje em dia? É uma paixão, né?
Sim. Já chegamos a ter oito em casa. A gente sofre quando eles se vão, mas nunca pensei em não tê-los em casa. Hoje, são três. É um maltês, chamado Théo, de Theodoro, uma vira-latinha, a Aurora, e a Minilu, que tem 15 anos. Passeamos juntos. Com os dois mais novos, é só falar "passear", que já estão na porta do carro. A Minilu já fica mais em casa, porque está velhinha. Nós vamos muito à praia, em Torres, com eles, nos fins de semana, aí se soltam.