Os preços da carne não serão alterados por causa da descoberta do caso da chamada doença da "vaca louca" no Pará, garantiu na quinta-feira (23) o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro. Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, ele desmentiu boatos propagados pelas redes sociais de que a doença ajudaria o governo a manipular o mercado do alimento.
— Em hipótese alguma, faríamos qualquer tipo de manipulação de mercado para afetar nossas relações internacionais com a China, em detrimento de querer baixar por alguns dias o preço da nossa carne (por meio do aumento da oferta interna). O Brasil é um país de princípios, que respeita o mercado, que garante credibilidade nas suas relações e nunca participaria de nenhum tipo de ação como essa — declarou o ministro.
Dizendo que fake news devem ser combatidas, o ministro reiterou que o governo está conduzindo o processo com transparência e credibilidade.
— Esse é um discurso, uma retórica bolsonarista, de quem não quer o bem do Brasil, de quem gosta de plantar fake news. Peço à população: o Brasil é um país eficiente, moderno, transparente, com regras claras, não acreditem em mentiras. Não acreditem em fake news — pediu Fávaro.
O ministro também descartou qualquer risco para o consumidor brasileiro. Embora o consumo de carne de animais idosos seja permitido no mercado interno, Fávaro ressaltou que a Vigilância Sanitária do Ministério da Agricultura é eficaz e monitora a qualidade da carne consumida no país.
— O consumidor brasileiro pode ter certeza. Nosso sistema (de vigilância sanitária) é eficiente. Temos segurança de que não há risco nenhum de contaminação — declarou.
Resultados do teste
Fávaro informou que o resultado do teste das amostras enviadas ao Exterior sairá até metade da próxima semana. O ministro admitiu que haverá um pequeno atraso porque na quarta (22), dia em que o material chegou ao Canadá, também era feriado no país da América do Norte. Segundo ele, o governo está num procedimento final de liberar a amostra na alfândega canadense, para que ela possa chegar ao laboratório até domingo (26).
— Estamos trabalhando nossa diplomacia, nossos contatos para que o laboratório (canadense) dê atenção especial e agilidade, o que deve acontecer em dois ou três dias a partir do momento em que a amostra está lá. Aí nós teremos o resultado. Imediatamente, a informação será disponibilizada ao mercado — disse.
Embora a doença tenha sido confirmada pelos laboratórios brasileiros, o exame no Canadá, mais sofisticado, informará se o caso era atípico (gerado espontaneamente na natureza, sem transmissão) ou clássico (transmitido entre animais por ingestão de ração contaminada). Fávaro explicou que a propriedade em Marabá (PA), onde foi detectada a doença, poderá voltar a comercializar o gado bovino assim que sair a confirmação do caso atípico, e reiterou que a carcaça do animal foi incinerada, sem contato com o restante do rebanho.
— É importante ressaltar que o Brasil até hoje só teve casos atípicos da doença. O animal não comia ração, só foi criado em pasto numa pequena propriedade e já era considerado idoso, com 9 anos. Não há sintomas em nenhum outro animal de rebanho que conviveu com ele. Tudo isso indica que (o caso de vaca louca) é uma evolução natural da degeneração de células (do sistema nervoso) que alguns indivíduos apresentam. Por isso, a expectativa é que deva ser considerado mais um caso atípico — declarou.
China
Na última vez em que foram confirmados casos da vaca louca no Brasil, em 2021, as exportações para a China ficaram suspensas por cerca de cem dias, de setembro a dezembro daquele ano. Apesar de reconhecer que a suspensão trará prejuízos para a balança comercial brasileira, o ministro disse esperar que o processo seja breve.
— Já houve casos em que a exportação (à China) ficou suspensa por 13 dias. A palavra de ordem do presidente Lula, que não seria diferente por parte do ministério, é transparência total na informação, agilidade, cumprir os protocolos. Isso é fundamental para ter credibilidade, e estamos fazendo isso imediatamente a partir da suspeita — disse.
O protocolo de suspensão das exportações à China está em vigor desde 2015.
Na manhã de quinta-feira, Fávaro reuniu-se com o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, para prestar todos os esclarecimentos. O ministro disse ter tido boa receptividade da parte do governo chinês.
— Comunicamos o tema e coloquei à disposição os nossos secretários de Relações Internacionais e de Defesa para irem pessoalmente à China. Obtivemos como resposta do governo chinês que não há necessidade. Que eles estão satisfeitos com a forma com que o processo está sendo conduzido. Isso é um indício muito claro que essa suspensão não deve durar muitos dias — comentou Fávaro.
A confirmação do caso de "vaca louca" ocorreu num momento em que as exportações de carne bovina para a China estavam em alta. Em janeiro, as exportações cresceram 7% na receita e 17% no volume em relação ao mesmo mês de 2022, totalizando US$ 851,2 milhões e 183.817 toneladas, tanto em carne in natura como congelada. As vendas para a China corresponderam a 57% do total, com receita US$ 485,3 milhões e 100.164 toneladas exportadas.