A frustração com os prejuízos da última safra deve levar à diminuição de 30% na área cultivada com cebola em São José do Norte, maior produtor do Estado. A redução deve ter impacto no preço ao consumidor a partir de maio - o plantio começa em abril - e é reflexo direto do excesso de chuva em outubro de 2013 e, principalmente, das altas temperaturas registradas entre janeiro e fevereiro deste ano. Há casos em que a onda de calor dizimou até 90% de algumas áreas.
São José do Norte é responsável por 40% da produção do Estado. Outros 20% vêm de localidades do litoral sul, como Rio Grande, Mostardas e Tavares - nesta última, também houve prejuízo, que foi de quase 80%. O restante sai principalmente da Serra.
De acordo com a Emater, o calor ocasionou perdas em diferentes regiões e culturas, mas em nenhuma plantação o resultado deve ter tanta influência no plantio da próxima safra quanto na cebola.
Como a cultura é uma das mais importantes em São José do Norte, a prefeitura decretou situação de emergência. Os produtores tiveram de jogar fora 32 mil toneladas do produto (equivalente a 61% da produção), o que já afeta a economia do município. Sem ter o que vender, os agricultores afirmam que não devem conseguir honrar o pagamento das dívidas dos financiamentos contratados no ano passado - e que
começam a vencer em breve.
De acordo com o Secretário de Agricultura e Pesca de São José do Norte, Umberto Pinheiro, os mercados não ficaram desabastecidos de cebola porque há outros centros de produção no Estado e fora dele - como Santa Catarina e Argentina. Mas os preços, garante, devem começar a subir a partir de maio.
- O mercado brasileiro vem sendo empurrado pelo excesso de produção desde agosto passado. Isso só não se tornou mais expressivo porque São José do Norte teve essa quebra. Com isso, deixa de girar no município em torno de R$ 20 milhões, entre arrecadação de impostos e dinheiro que o produtor teria em mãos - lamenta Pinheiro.
Produtor teve danos em 90% da lavoura
No início do plantio, Valério Santos, 35 anos, estava animado: em sua área de 6 mil hectares brotavam cerca de 185 toneladas de cebola, 20 toneladas a mais do que na safra de 2012/2013. O produtor sofreu um baque ao ver 90% do plantio ser dizimado. O percentual é muito acima dos 15% de prejuízo registrado no ano passado.
- Entrei no galpão e, com o calor, estava correndo caldo das cebolas - relembra Santos, que tem na cultura a base do sustento da família.
A maior parte do que sobrou foi enterrada e vai virar adubo. Outra parcela - cerca de duas toneladas de cebolas corroídas - ainda está no galpão. Santos vê nelas as parcelas dos R$ 26 mil que investiu na lavoura, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). E o agricultor não sabe se vai conseguir pagar até as datas de vencimento, marcadas para 20 de abril e 31 de maio.
- Nunca passei por nada parecido. O que aconteceu nesse ano é inédito. Nunca fiquei devendo um real para ninguém, mas agora estou com medo - desabafa o produtor, que na safra 2014/2015 pretende diminuir a produção pela metade e buscar complemento à renda no setor de resinagem de pínus, árvores comuns na região.
Em busca de ajuda
- Os agricultores tentam com o Ministério de Desenvolvimento Agrário desconto de 60% no pagamento da dívida para quem puder fazê-lo à vista.
- Quem optar pelo parcelamento do saldo do financiamento está solicitando prazo maior e um ano de carência.
- A intenção dos produtores é conseguir fazer com que as dívidas não impeçam a solicitação de crédito no próximo ano.
- Para quem usou recursos próprios, o pedido é de apoio, como fornecimento de insumos.