O primeiro dia da 16ª edição da maior conferência mundial sobre proteção da natureza contou com um chamado urgente ao investimento de recursos e ao estabelecimento de acordos concretos para deter a destruição da biodiversidade.
Povos indígenas colombianos realizaram uma marcha para participar do tradicional encontro indígena "Minga". A atividade ocorreu nesta segunda-feira (21), no âmbito da cúpula COP16.
Representantes de grupos jovens e indígenas pediram para serem incluídos nos debates.
— Para que possamos continuar falando de conservação (...) precisamos de um mecanismo de financiamento direto para os povos indígenas, para que a Amazônia possa continuar sendo preservada — disse Oswaldo Muca, da Organização dos Povos Indígenas da Amazônia Colombiana.
Cerca de 23 mil pessoas, incluindo uma dúzia de chefes de Estado e uma centena de ministros, se credenciaram para comparecer à edição mais concorrida da COP, segundo os organizadores.
Esta edição reúne os delegados dos Estados-membros da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) para duas semanas de debates sob estritas medidas de segurança após ameaças de um grupo guerrilheiro.
— Precisamos de mais fontes de financiamento e cumprir com as promessas formuladas — afirmou a ministra de Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, durante a cerimônia de abertura da conferência.
Ela assumiu a presidência da cúpula e apresentou uma réplica da famosa escultura de Fernando Botero, “A Pomba da Paz”, ao seu antecessor, o ministro chinês de Ecologia e Meio Ambiente, Huang Runqiu.
Compromissos pendentes
Na COP15, realizada em 2022 em Montreal, no Canadá, os países participantes se comprometeram a declarar 30% de seus solos e mares como áreas de preservação até 2030. Mas a maioria está atrasada.
Apenas 8,4% dos oceanos do mundo foram designados como Área Marinha Protegida, segundo um relatório divulgado pelo Greenpeace nesta segunda.
— Estamos a seis anos do final de 2030 e o progresso em direção à meta é quase nulo. Nesse ritmo, não alcançaremos esse objetivo até o próximo século — alertou Megan Randles, assessora de política pública do Greenpeace.
No domingo, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou às partes para que façam um "investimento significativo" no Fundo Marco Global para a Biodiversidade (GBFF).
O GBFF foi criado em 2023 para ajudar os países a alcançar os objetivos do chamado Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, que consiste em 23 metas para "deter e reverter" a perda de biodiversidade até 2030.
Mas até agora, apenas 35 dos 196 países apresentaram diretrizes para cumprir esses objetivos, segundo a CDB. Espera-se que outros tantos apresentem esse documento durante a cúpula.
Ponto "sem retorno"
Os países também se comprometeram a aportar cerca de 250 milhões de dólares (R$ 1,4 bilhão, na cotação atual) ao GBFF, segundo as agências que supervisionam o processo.
Essas contribuições fazem parte de um acordo mais amplo para que os países mobilizem pelo menos 200 bilhões de dólares (R$ 1,1 trilhão) ao ano até 2030 para a biodiversidade, incluindo 20 bilhões de dólares anuais (R$ 114,1 bilhões) até 2025 das nações ricas para ajudar os países em desenvolvimento.
De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que mantém uma lista vermelha de animais e plantas ameaçadas, mais de um quarto das espécies avaliadas pela organização correm risco de extinção.
As populações de fauna selvagem diminuíram 73% entre 1970 e 2020, segundo a ONG WWF.
— Esse número indica que nossos sistemas estão em perigo. Se não abordarmos as causas da perda de biodiversidade, nosso ecossistema atingirá um ponto crítico, basicamente um ponto sem retorno — declarou Lin Li, diretora de política do WWF.