A crise climática provocada pela atividade humana "abriu as portas do inferno", declarou nesta quarta-feira (20) o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na Reunião de Cúpula da Ambição Climática, da qual não participaram os Estados Unidos e a China, os dois países que mais poluem.
Secas, inundações, temperaturas sufocantes, incêndios históricos: "A humanidade abriu as portas do inferno", como mostraram "os efeitos horríveis do calor terrível", disse Guterres na reunião, cujos participantes são os melhores alunos da luta contra as mudanças climáticas.
O encontro foi surpreendido pelo anúncio do Reino Unido de que recuará em seu objetivo de alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
Apesar da multiplicação e intensificação dos eventos climáticos extremos, as emissões de gases do efeito estufa seguem aumentando. O futuro "não está decidido, cabe a líderes como vocês escrevê-lo", alfinetou Guterres.
— Ainda podemos limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C e construir um mundo de ar limpo, empregos verdes e energia limpa e acessível para todos — disse, alertando que, do contrário, o planeta se dirige para um aumento da temperatura de 2,8°C.
Cerca de 30 delegações participaram do encontro na ONU. Entre os presentes estavam União Europeia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, Canadá e África do Sul, além de muitos países que estão na vanguarda contra o impacto do aquecimento global, como Barbados, Samoa e Tuvalu. O secretário-geral também convidou o governador da Califórnia e a prefeitura de Londres.
"Setor minoritário poderoso"
Para o presidente do Chile, Gabriel Boric, o problema são algumas multinacionais e o capital financeiro, "um setor minoritário, mas muito poderoso, da sociedade, que não se submete às regras democráticas nem aos acordos" alcançados pela comunidade internacional para reduzir as mudanças climáticas.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, apontou que a solução passa por "desligar as grandes chaminés no norte (Estados Unidos, Europa, China e Índia) e revitalizar as esponjas do sul", parar de subsidiar os combustíveis fósseis, e financiar a adaptação dos países pobres e a redução, o que "só poderá ser alcançado se reestruturarmos o sistema financeiro global".
O chanceler alemão, Olaf Scholz, prometeu 2 bilhões de euros (10 bilhões de reais) para um fundo que financie a ação climática nos países em desenvolvimento, enquanto o Brasil afirmou que conseguirá reduzir o desmatamento na Amazônia a zero até 2030.
"Correção"
— Talvez seja uma boa notícia que Biden não tenha um espaço na agenda para falar na cúpula — comentou Catherine Abreu, da ONG Destination Zero, apontando o dedo para os planos de expansão dos combustíveis fósseis dos Estados Unidos.
— Trata-se de uma correção em relação a cúpulas anteriores, nas quais os líderes tiveram a oportunidade de tomarem para si a liderança climática no cenário internacional, enquanto perseguiam planos de expansão dos combustíveis fósseis que estão alimentando a crise climática em casa — acrescentou.
A cúpula é a reunião climática mais importante nos Estados Unidos desde 2019, quando a ativista sueca Greta Thunberg disparou seu famoso "Como se atrevem!" aos líderes mundiais. A irritação entre os ativistas do clima aumenta, sobretudo entre os jovens, que voltaram a tomar as ruas de Nova York no último fim de semana, em uma manifestação contra os combustíveis fósseis.
O descumprimento por parte dos países ricos de suas promessas de ajuda aos países em desenvolvimento é um tema especialmente delicado nas negociações internacionais sobre o clima, uma controvérsia que estará na ordem do dia da COP28 dentro de algumas semanas.
Entre as boas notícias está a de que a Colômbia e o Panamá se somaram ontem à aliança de países comprometidos com a eliminação progressiva do carvão.
* AFP