É preciso agir de forma "urgente" contra o aquecimento global, de acordo com a Cruz Vermelha Internacional. Nesta terça-feira (17), a organização afirmou que o fenômeno é um desastre "de maior magnitude" do que a covid-19, e contra o qual não há vacina.
A mudança climática não espera que a covid-19 seja controlada para continuar a ceifar vidas, diz a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) em um relatório sobre desastres naturais em todo o mundo a partir da década de 1960. De acordo com a organização, com sede em Genebra, mais de cem desastres ocorreram entre março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a pandemia do coronavírus, e setembro, e mais de 50 milhões de pessoas foram afetadas.
— Claro que a covid-19 está aqui, afeta nossas famílias, nossos amigos, nossos parentes (...) e é uma crise gravíssima que o mundo vive atualmente — reconheceu o secretário-geral do FICV, Jagan Chapagain, durante uma coletiva de imprensa.
Mas, "em nossa opinião, as mudanças climáticas terão um impacto muito maior na vida humana e na Terra no médio e longo prazo" do que a covid-19, que já causou a morte de pelo menos 1,3 milhão de pessoas desde o fim de 2019, afirmou.
Especialmente levando em consideração que "esperamos ter uma vacina contra a covid no próximo ano e, se tudo correr bem, em alguns anos, devemos ser capazes de controlar seu impacto", disse, alertando amargamente: "Infelizmente, não há vacina contra as mudanças climáticas".
— São necessários muito mais ações e investimentos sustentáveis para proteger verdadeiramente a vida humana nesta Terra — concluiu, exortando todas as pessoas a agirem.
Atualmente, observa a FICV, a frequência e a intensidade dos eventos climáticos estão aumentando consideravelmente, com cada vez mais tempestades de categoria 4 ou 5, mais ondas de calor quebrando recordes de temperatura e mais chuvas torrenciais, entre muitas outras situações extremas.
Somente em 2019, foram 308 desastres causados por fenômenos naturais, que causaram a morte de cerca de 24,4 mil pessoas em todo o mundo. Destes, 77% foram desastres climáticos ou meteorológicos. O número de ambos aumentou desde 1960 e cresceu quase 35% desde 1990.
Sobrevivência ameaçada
A proporção de catástrofes atribuíveis a eventos extremos climáticos e meteorológicos também aumentou significativamente durante esse período, de 76% nos anos 2000 para 83% nos anos 2010. Esses desastres extremos mataram mais de 410 mil pessoas na última década, a grande maioria em países de baixa e média renda.
Ondas de calor, seguidas por tempestades, foram as mais mortais. Diante deste desafio, que "literalmente ameaça nossa sobrevivência a longo prazo", a FICV exorta a comunidade internacional a agir sem demora.
A organização calcula que cerca de US$ 50 bilhões (pouco mais de 42 bilhões de euros) por ano serão necessários para responder às necessidades de adaptação que 50 países em desenvolvimento definiram para a próxima década.
"Esse montante é irrisório diante da resposta global às repercussões econômicas da pandemia", diz a FICR.
Além disso, a organização lamenta que muitos países altamente vulneráveis às mudanças climáticas sejam deixados para trás e recebam apenas uma ajuda relativamente modesta. O relatório também destaca que nenhum dos 20 países mais vulneráveis ao aquecimento global e aos desastres climáticos e meteorológicos, como a Somália, estava entre os 20 principais beneficiários "per capita" de fundos para se adaptar a essas situações.