O recente anúncio da concessão de rodovias catarinenses aumenta a necessidade do fim das obras de duplicação do trecho Sul da BR-101, aguardada há pelo menos 20 anos. O Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit) precisa concluir toda a rodovia para então ser avaliada a possibilidade de concedê-la para a iniciativa privada. Os primeiros contratos para a duplicação do trecho Sul foram feitos em 2004, com previsão de término em 2010. Conforme estudo da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), a região Sul deixou de gerar até dezembro de 2014 R$ 32,7 bilhões pelos atrasos.
Quatro construções travam ampliação
O superintendente do Dnit em SC, Vissilar Pretto, garante que não há mais trecho a ser licitado, porém obras incompletas barram a duplicação total. A BR-101 Sul, entre Florianópolis e Passos de Torres, enfrenta quatro gargalos.
O principal deles, em Laguna, deve ser resolvido com a entrega da ponte Anita Garibaldi, com nova promessa para 30 de junho. Ficam pendentes a duplicação no entorno do Morro do Formigão e a Ponte Cavalcanti, ambos em Tubarão, além dos túneis no Morro dos Cavalos, em Palhoça, ainda aguarda licenças ambientais e a resolução de questões indígenas.
Em Tubarão, a expectativa é que as obras da ponte fiquem prontas até dezembro deste ano. Até lá, o Dnit espera também concluir as obras em torno do túnel do Formigão, cerca de 500 metros à frente, sentido Tubarão. Até o final deste ano, o túnel, que está pronto, funcionará em sentido único em apenas uma pista.
- O que falta é a ponte sobre o rio Tubarão. Temos a previsão de finalizá-la até dezembro. Nosso cronograma das obras complementares coincide com o da ponte Cavalcanti - explica o engenheiro do Dnit, Alysson Andrade.
Estrutura da ponte Cavalcanti, em Tubarão. Foto: Marco Favero/ Agência RBS
Conclusão devolverá rotina a Laguna, dizem moradores
Longe das discussões que correm no âmbito federal sobre a duplicação do trecho Sul da BR-101, bem como o pagamento das obras, o pescador de Laguna vê de perto a gigante Anita Garibaldi surgir em frente ao seu pequeno comércio de pescado. A peixaria de duas portas instalada há 30 anos às margens da rodovia que suporta o fluxo da BR-101 em direção à ponte de Cabeçuda é abalada pela movimentação diária. Claudio Leandro, 68 anos, ainda lembra quando a mesma estrada era de chão batido e clientes chegavam a pé para comprar peixe.
-Hoje o movimento é tanto que os carros não têm onde parar aqui. Caíram muito as vendas. Acho que com a ponte (Anita Garibaldi) vai melhorar, voltaremos a ter aqui um fluxo só de moradores, além dos turistas que vão chegar - observa ele.
Construção chegou a ter 1,8 mil trabalhadores
Os três últimos anos foram atípicos para a cidade de Laguna com a construção da ponte. Na região de Cabeçuda ficaram a maior parte dos novos moradores temporários que chegaram para a obra que, no auge, chegou a concentrar cerca de 1,8 mil trabalhadores. Comércios surgiram quando os novos rostos passaram a circular pela cidade.
Foto: Marco Favero / Agência RBS
O pescador de Laguna José Carlos Leandro, 71 anos, que criou os sete filhos só com a pesca, acompanhou toda essa movimentação. Ele observa que a cidade aos poucos volta à rotina.
- O barulho das bate estacas no fundo do mar afugentou os peixes. Foram quase três anos assim, mas foi um mal que serviu para o bem. Agora, com as obras terminando, os peixes estão voltando - conta o pescador.
Entrevista com Vissilar Pretto, superintendente do Dnit em SC:
Como está o andamento das obras na BR-101 Sul?
Não tem mais nenhuma licitação pra concluir o trecho sul.
A questão da liberação de recursos não pode vir a atrapalhar as obras?
Não, porque agora normalizou. Claro que depende do Governo Federal, mas a informação é que será dada a continuidade nos pagamentos.
Como funcionarão as concessões?
Primeiro é preciso terminar a obra para depois poder ocorrer a concessão. Não cabe ao Dnit decidir, somos apenas um órgão executor. A escolha é do Ministério Transportes. No trecho Sul o movimento justifica isso. O Dnit perde inicialmente parte da jurisdição da malha normalmente por 20 a 25 anos aproximadamente, mas o remanescente volta para o Dnit posteriormente. As pessoas passam a fazer essa equação de manutenção e investimentos complementares pelo valor do pedágio. Isso compensa quando o pedágio é barato. Tem rodovias que pelo baixo movimento já não se justifica.
E como está o andamento destes processos de concessão?
Semana que vem estarei em Brasília para ver como está o andamento desses projetos dentro do Ministério dos Transportes. Três empresas já fizeram as propostas interessadas nos trechos das BRs 153 e 282, no Oeste. Mas a concessão deve ocorrer no segundo semestre desse ano, após leilão.
Há risco de as obras pararem novamente na Ponte de Laguna?
O Governo Federal está fazendo os pagamentos mensais, a empresa vai receber a parte mensal. Agora depende do valor disponibilizado (pelo governo) para os próximos pagamentos. Estamos trabalhando com a data de 30 de junho para conclusão. Assim que terminar, logo será feita a inauguração pela presidente Dilma Rousseff.