A menos que os laudos periciais apontem que havia problemas mecânicos no ônibus da Unesul que tombou na tarde da última terça-feira em Glorinha, o condutor do veículo, Jéferson Padilha da Silva, 38 anos, será indiciado por homicídio doloso (quando há intenção de matar). O delegado Anderson Spier trabalha com a tese de que Jéferson estava atrasado e, por isso, corria no momento em que o coletivo virou na ERS-030.
Assim, teria assumido o risco de causar a morte de seis pessoas e deixar mais de 20 feridos. Observações de policiais feitas no local indicam que o ônibus trafegava a mais de 100 km/h. A marcação do tacógrafo seria muito superior à velocidade permitida na curva da ERS-030, rodovia que liga Gravataí a Glorinha, que é de no máximo 60 km/h.
- Confirmamos os horários e verificamos que ele estava meia hora atrasado. Às 14h (quando aconteceu o acidente), o carro deveria estar em Santo Antônio da Patrulha, 30 km longe. Ele assumiu o risco de fazer uma bobagem por causa do atraso - aponta o delegado.
Spier disse também que Jéferson mentiu ao argumentar que estava a 60 km/h e que houve problemas no feixe de molas do veículo. O condutor prestou depoimento ainda na tarde de ontem e negou o excesso de velocidade:
- Eu perguntei se ele estava atrasado e ele disse que não. Pareceu que mentia, eu frisei que um ônibus não vira a 60 km/h. O perito falou também que todos os sistemas do coletivo estavam em perfeito estado de conservação.
Teste deu negativo para falhas
O delegado explicou ainda que o ônibus foi desvirado depois do tombamento e que um perito fez testes que afastaram a hipótese de falhas:
- Ou seja, a única coisa que restou foi o erro humano dele, de ser imprudente ao se deslocar numa estrada em que não se tem condições de andar a mais de 100 km/h nem com carros. Se o laudo apontar que não tinha falha mecânica, tenho condições de concluir o relatório com o indiciamento pelo dolo eventual.
"Ele não é inconsequente, não foi proposital"
Ainda sem entender como o irmão tombou o ônibus da Unesul em Glorinha, Márcia Padilha da Silva garantiu a Zero Hora que ele "não é inconsequente e não fez nada proposital". Jéferson é funcionário da empresa há apenas um mês. Antes, trabalhou de janeiro de 2013 a novembro de 2014 na Transportes Gabardo Ltda. como motorista de caminhão cegonha. Ele possui habilitação para coletivos desde 1997.
- Não conseguimos falar direito e não sabemos o que aconteceu. Não sabemos se ele teve um mal súbito. Ele é responsável, não fez nada proposital, não é inconsequente - argumentou.
Como foi o acidente
O acidente aconteceu no km 22 da via, próximo à parada 117. Conforme o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) de Gravataí, cinco pessoas ficaram presas embaixo do veículo e morreram no local. Outra vítima foi socorrida e encaminhada ao Hospital Dom João Becker, em Gravataí, onde morreu pouco tempo depois.
A polícia informou que o coletivo estava lotado. O ônibus deixou a Capital por volta do meio-dia, com 27 passageiros. Ambulâncias dos bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), com apoio de um helicóptero da Operação Golfinho, da Brigada Militar, socorreram os feridos e os encaminharam a hospitais de Gravataí, Cachoeirinha e Porto Alegre, dependendo da gravidade dos ferimentos.