Em 2014, a maior infração cometida por motoristas de ônibus foi acelerar além do permitido nas estradas do Rio Grande do Sul. Foram 7.245 ocorrências por alta velocidade, 31% do total de 23.093 infrações envolvendo ônibus, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) costuma fazer operações específicas para flagrar ônibus acima do máximo permitido nas vias somente em períodos de grande movimento, como feriados e finais de semana nas estradas estaduais. O comandante do CRBM, coronel Fernando Alberto Grillo Moreira, afirma que essas operações ocorrem em locais onde se espera que os motoristas dos coletivos possam acelerar - e não em uma curva com velocidade máxima de 60 km/h na sinuosa ERS-030, onde aconteceu o acidente com o ônibus da Unesul que resultou em seis mortos e dezenas de feridos na terça-feira.
Nas estradas federais, a alta velocidade é comum principalmente nas rodovias BR-101 e freeway. Segundo o chefe da Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Alessandro Castro, no último fim de semana foram identificados vários ônibus trafegando a cerca de 100 km/h nas duas estradas, cujos limites de velocidade são 80 km/h e 90 km/h para veículos pesados, respectivamente.
Falta de cinto também é campeã de registros
A infração mais flagrada pelo CRBM nas estradas estaduais é a falta de uso do cinto de segurança. No ano passado, foram 44.334 infrações desse tipo, o que corresponde a 15% de todas as multas nas rodovias fiscalizadas pelo CRBM. Desse total, 8% envolveram ônibus.
O comandante diz que o grande problema é a impossibilidade de multar os passageiros por não usarem o cinto, já que o motorista é o responsável por esse controle. Além disso, é muito difícil para o condutor do ônibus fiscalizar se todos os passageiros estão com os cintos afivelados. Ele compara com os aviões, em que há os comissários de bordo e aeromoça para verificar, já que a tarefa seria impossível para o piloto realizar. Castro concorda:
- O motorista está lá na frente, dirigindo, e tem que se responsabilizar pelo uso de cinto pelos passageiros. Isso, para a gente, é um problema. A lei tem que ser alterada para responsabilizar o passageiro.
Para o especialista em transportes da Associação Latino-Americana de Sistemas Integrados e BRT (SIBRT), André Jacobsen, existe uma debilidade na fiscalização no Estado. Uma forma de contornar esse vácuo seria as próprias empresas atuarem mais efetivamente para coibir seus motoristas a exagerarem ao pisar no acelerador, já que as companhias sabem, por meio da tecnologia, se seus veículos estão correndo ou não.
- Cuidar da segurança dos clientes é responsabilidade das empresas de transportes. Muitas empresas possuem informações sobre excesso de velocidade, obtidas por meio de tacógrafos, GPS, sistemas de telemetria (que detectam até freagens bruscas e rotação do motor) e de reclamações de passageiros, e devem agir antes que os acidentes aconteçam. As empresas que não possuem deveriam investir em tecnologia para proteger seus clientes - explica Jacobsen.
Os ônibus nas estradas do Rio Grande do Sul
- Os ônibus eram 0,91% da frota (54.986) do Estado em 2014
- Ônibus foram responsáveis por 23.093 multas em 2014, o que representa 0,95% do total - foi o menor número desde 2010
- A maior parte das infrações envolvendo ônibus em 2014 foi por alta velocidade: 7.245 (31% do total de infrações envolvendo ônibus)
- Acidentes com vítimas envolvendo ônibus foram 3,4% (96) do total (2.810) em 2014