Três dias de suspensão das atividades que se tornaram 38. Esta é a história recente do Instituto Caldeira, no bairro Navegantes, em Porto Alegre, e exemplifica o avassalador impacto das águas do Guaíba para o Quarto Distrito – área que engloba diversos bairros da zona norte da Capital.
Na manhã de 3 de maio, quando a comporta de número 14 do muro da Mauá estava prestes a se romper, começou uma evacuação às pressas em diversos pontos do Quarto Distrito. A 700 metros da insustentável comporta, o Instituto Caldeira fazia o mesmo, esvaziando o espaço ocupado por 130 empresas e instituições.
A perspectiva era de retomar as atividades três dias depois, em 6 de maio. A reabertura, no entanto, ocorreu nesta segunda-feira, 10 de junho. O cálculo dos gestores do instituto é de que as empresas instaladas no local perderam ao menos R$ 400 milhões em negócios, equipamentos e estrutura.
Com o primeiro piso ainda em processo de limpeza, as atividades do Caldeira estão concentradas nos dois pavimentos superiores. Salas de reunião do segundo e terceiro andares agora abrigam CNPJs originalmente instalados no térreo – onde as águas alcançaram o alto das paredes. É o caso da Zero Defect, empresa especializada em testes de softwares, que teve os dispositivos digitais destruídos pelas águas.
— É como se tivéssemos virado uma página ruim. A empresa está sobrevivendo, assim como o próprio Caldeira. Vamos seguir em frente — conta Rafael Krug Marques, sócio-fundador da Zero Defect.
Apesar dos danos milionários, parte das empresas de tecnologia conseguiu manter ao menos parte das atividades produtivas e comerciais, sofrendo menos que outros setores estritamente vinculados a negócios locais e presenciais.
— Conseguimos manter 60% da operação durante a enchente — acrescenta Marques.
Espaço de conexão de investidores e marcas milionárias a iniciativas inovadoras, o Instituto Caldeira defende a reconstrução de negócios na mesma região de Porto Alegre.
— Esta situação extraordinária justamente deve ser um ponto de inflexão. Muitas das discussões no poder público e iniciativa privada são: vamos abandonar o Quarto Distrito ou vamos aproveitar esta janela como uma oportunidade de endereçar problemas que já vinham acontecendo antes. A gente acredita no nosso papel de catalisador de transformações para esta região da cidade — projetou Pedro Valério, diretor executivo do Caldeira.
Reaberto, o Caldeira se tornou, por ora, uma ilha de prosperidade na região do Bairro Navegantes. No entorno do instituto de inovação, montes de entulho e lixo ainda marcam o trajeto de empreendedores e consumidores. A maioria dos negócios por ali – desde restaurantes a pequenas fábricas e comércios – ainda trabalha para descartar os destroços e afastar a lama trazida pela enchente de maio.