Um artigo escrito por pesquisadores do Instituto de Cosmologia Computacional da Universidade de Durham, na Inglaterra, e publicado em 4 de outubro no The Astrophysical Journal Letters revelou que a Lua pode ter sido formada pouco tempo depois da colisão da Terra com um corpo celeste do tamanho semelhante a Marte, que tem 6.780 quilômetros de diâmetro. Para chegar a essa hipótese, os estudiosos realizaram uma série de simulações computacionais.
Segundo o estudo, o nosso satélite natural teria sido formado há bilhões de anos, quando a Terra, que tinha características atmosféricas muito diferentes das atuais e não reunia condições para a existência de vida complexa, colidiu com um corpo celeste chamado Theia. De acordo com os pesquisadores, a partir desses detritos gerados no impacto, surgiu a Lua. Apesar disso, ainda não se sabe como foi exatamente o seu processo de formação.
A maioria das teorias sobre o assunto considera que os detritos gerados na colisão ficaram em órbita ao longo de muito tempo — por meses ou anos — até que se uniram e deram origem à Lua. No entanto, de acordo com o novo estudo, o satélite natural pode ter sido formado poucas horas após o impacto gerado pelos corpos celestes.
Jacob Kegerreis, pesquisador do Centro de Pesquisa Ames da Nasa, no Vale do Silício, na Califórnia, e um dos principais autores do artigo, explicou, em comunicado, que as simulações utilizadas no estudo foram as de mais alta resolução, o que permitiu obter detalhes sobre a suposta colisão que até então foram desconsiderados por outros estudiosos.
"Entramos neste projeto sem saber exatamente quais seriam os resultados dessas simulações de alta resolução. Portanto, além da grande surpresa de que as resoluções padrão podem fornecer respostas enganosas, foi ainda mais empolgante que os novos resultados pudessem incluir um satélite tentadoramente parecido com a Lua em órbita ", informou Jacob.
As simulações
Para que as simulações pudessem ser realizadas, a equipe envolvida na pesquisa utilizou dados e informações básicas sobre a Lua, como sua massa (cerca de 73 quintilhões), comportamento de órbita e características presentes em rochas lunares. A partir disso, foi possível criar, de forma computadorizada, um cenário que simulava a composição do universo e dos corpos celestes há bilhões de anos.
A pesquisa também comprovou que as simulações de alta resolução revelam muitas informações que seriam impossíveis de serem obtidas com tecnologias de menor qualidade. Além disso, os cientistas acreditam que computadores e programas menos desenvolvidos podem levar a erros e conclusões precipitadas.
Para Jacob e os demais autores do artigo, as simulações de menor qualidade ainda podem ser úteis, mas para determinados estudos, como aqueles que visam obter informações sobre a massa e o comportamento da órbita da Lua. No entanto, elas não conseguem auxiliar em investigações sobre a composição lunar, por exemplo.
Em seu site oficial e no canal do YouTube da Nasa TV, a Agência Espacial Norte-Americana divulgou um vídeo que mostra a simulação do processo de formação da Lua que foi utilizada no estudo.
Veja a simulação:
Semelhanças da Lua com a Terra
Há décadas, os pesquisadores tentam entender porque os solos da Lua e da Terra apresentam semelhanças em suas composições. Em diversas amostras lunares coletadas e analisadas, os cientistas puderam perceber que as rochas do satélite natural são muito semelhantes as do nosso planeta e bem diferentes das encontradas em Marte ou em outros planetas do Sistema Solar.
Devido aos elementos em comum entre a Terra e a Lua, surgiram diversas teorias ao longo dos anos. A mais famosa é conhecida como modelo de sinestesia. Ela considera que o satélite natural foi formado dentro de um redemoinho de rocha vaporizada da colisão com o nosso planeta. No entanto, essa hipótese não consegue explicar a órbita inclinada da Lua e sua crosta fina.
Com base no recente artigo, parte do material presente no solo da Terra contribuiu para a formação da Lua, principalmente das camadas mais externas do satélite natural. Além disso, quando Theia entrou em órbita com nosso planeta, antes da colisão, esse corpo celeste misturou seu material com a da Terra, mas isso não fez com que ficassem com composição semelhante.
A nova pesquisa buscou explicar o comportamento da órbita lunar e a composição de sua crosta. Para os estudiosos, isso se deve ao rápido processo de formação da Lua, que fez com que o satélite natural ficasse em uma órbita ampla e com um interior que não está totalmente derretido.
Para que a nova hipótese seja confirmada e, consequentemente, as anteriores refutadas, os cientistas precisam realizar novas análises e pesquisas sobre o satélite natural. A missão Artemis, que pretende levar humanos à Lua até 2025, poderá contribuir nesse processo ao trazer de volta à Terra mais amostras lunares.
"À medida que os cientistas obtêm acesso a amostras de outras partes da Lua e das profundezas da superfície lunar, eles poderão comparar como os dados do mundo real correspondem a esses cenários simulados e o que eles indicam sobre como a Lua evoluiu ao longo de sua trajetória de bilhões de anos de história", explicou Kegerreis em comunicado enviado à imprensa.
Importância da pesquisa
A partir desse novo estudo, os pesquisadores puderam compreender aspectos relacionados ao processo de formação da Lua e conseguiram refutar hipóteses e teorias predominantes até então. A partir disso, novos caminhos de investigação poderão ser traçados, o que motivará novas pesquisas.
Para Vincent Eke, pesquisador da Universidade de Durham, na Inglaterra, e coautor do artigo, estudar a Lua é também compreender aspectos relacionados ao processo de evolução da Terra. "Suas histórias estão entrelaçadas – e podem ecoar nas histórias de outros planetas alterados por colisões semelhantes ou muito diferentes", explicou.