Tudo começou em 2010 com um post do Facebook. "Quem quer ir à Lua?", escreveu o engenheiro de computação Yariv Bash. Dois amigos, Kfir Damari e Yonatan Winetraub, responderam, e os três se reuniram em um bar em Holon, cidade israelense ao sul de Tel Aviv. Aos 30 anos, Bash era o mais velho.
– Conforme o nível de álcool em nosso sangue aumentava, fomos ficando mais determinados – lembrou-se Winetraub.
Eles formaram uma organização sem fins lucrativos, a SpaceIL, para realizar a tarefa. Mais de oito anos depois, o produto de seus sonhos, uma pequena espaçonave chamada Beresheet, foi lançada no dia 21 de fevereiro em um foguete Falcon 9, da SpaceX, na Estação da Força Aérea no Cabo Canaveral, na Flórida (EUA).
Se a missão for bem-sucedida, será a primeira vez que uma empresa privada chega à Lua. Também será motivo de orgulho para Israel. Até agora, apenas as agências espaciais governamentais de três superpotências – os Estados Unidos, a antiga União Soviética e a China – realizaram pousos na superfície lunar.
O objetivo original era participar da competição Google Lunar X Prize, que estava oferecendo um prêmio de US$ 20 milhões para o primeiro empreendimento com financiamento privado que pousasse uma nave espacial robótica na Lua. Os fundadores inicialmente imaginaram algo pequeno, que pesaria apenas uns cinco quilos, custaria apenas US$ 10 milhões e faria a viagem até o fim de 2012. O desafio acabou sendo muito mais difícil e muito mais caro.
– Não imaginamos, acho, quanto tempo levaria – disse Damari.
Depois de vários adiamentos, o prazo do Google Lunar X Prize, no ano passado, não teve um vencedor. Mesmo sem o prêmio de US$ 20 milhões, a SpaceIL persistiu. Ao contrário de muitas das outras equipes concorrentes que queriam construir negócios rentáveis, a SpaceIL tinha se imposto uma missão: inspirar os estudantes em Israel a se interessar por ciência e engenharia.
A Beresheet não vai fazer o caminho mais rápido e direto para a Lua. Isso exigiria um motor grande e muito combustível para sair da órbita da Terra, e depois outro motor, para desacelerar na Lua. Em vez disso, a espaçonave vai ajustar lentamente sua órbita, atingindo o ponto mais externo até que a gravidade da Lua a puxe para sua órbita.
Essa é uma viagem longa e sinuosa de quase sete milhões de quilômetros para chegar a um destino que fica a 400 mil quilômetros de distância. Em abril, a espaçonave vai pousar em uma planície de lava chamada Mare Serenitatis, ou Mar da Serenidade. Um instrumento construído pelo Instituto de Ciências Weizmann vai medir os campos magnéticos da Lua à medida que for se aproximando, e esses dados podem ajudar a dar uma ideia do núcleo de ferro lunar.
A Beresheet também está carregando um backup do conhecimento da humanidade na forma de um disco fornecido pela Fundação Arch Mission, contendo 30 milhões de páginas de informação, bem como uma cápsula do tempo com símbolos culturais israelenses e uma Bíblia.
Após alguns dias do pouso, espera-se que a Beresheet pereça no calor do meio-dia lunar. Então, sua missão termina. O preço para construir e lançar a Beresheet acabou ficando em US$ 100 milhões, não US$ 10 milhões, e o peso final da nave chegou a quase 590 quilos, incluindo o combustível. Os fundadores da SpaceIL afirmam que isso ainda é muito mais barato e menor do que o que uma agência espacial como a NASA construiria.
Os Estados Unidos e a ex-União Soviética começaram a enviar as naves robóticas à Lua a partir de 1966, parte da corrida espacial que culminou com os astronautas da Apollo 11 pisando na superfície lunar em 1969. Em 2013, a China se tornou a terceira nação a enviar uma nave espacial à Lua e, este ano, foi a primeira a pousar outro dispositivo no lado escuro do satélite natural.
Por Kenneth Chang