Um cirurgião plástico e outros 12 médicos residentes e ex-residentes foram indiciados pela Polícia Civil em inquéritos que investigam supostos problemas em pelo menos 87 pacientes que se submeteram a procedimentos com o profissional em Porto Alegre.
Em coletiva de imprensa no Palácio da Polícia, na Capital, na manhã desta quarta-feira (11), o titular da 10ª delegacia, Ajaribe Rocha Pinto, deu detalhes da apuração que já concluiu cinco dos 87 inquéritos.
— Foi uma investigação longa, de seis meses. São 87 vítimas, 13 indiciados, incluindo o suspeito principal. Foram ouvidas mais de 140 pessoas até o momento. Cercas de 500 páginas de relatório de investigação.
Segundo Pinto, os médicos estão sendo indiciados por estelionato, crimes contra o consumidor, associação criminosa, lesão corporal e concussão (vítimas pagavam valores por fora do que o plano cobrava).
A Polícia Civil não informou nomes, mas Zero Hora apurou que o principal investigado é o cirurgião plástico Leandro Fuchs. Ele não está proibido de clinicar, mas uma decisão judicial restringe sua atuação em procedimentos invasivos assim como o proíbe de deixar Porto Alegre. O passaporte foi retido. Nenhum dos indiciados foi preso.
O advogado de Fuchs, Diego Marty, disse que "a defesa tem ciência da finalização desses inquéritos, e aguardará o posicionamento do Ministério Público. Além disso, confia na absoluta inocência do Dr. Leandro Fuchs".
O caso não envolve a direção do Hospital Ernesto Dornelles, onde ele atuava e de onde havia se afastado temporariamente em janeiro, quando já havia 17 relatos de pacientes com problemas. O hospital "informa que já tomou as medidas internas cabíveis ao caso divulgado na imprensa. A instituição aguarda as decisões judiciais."
De acordo com o delegado, Fuchs teria deixado os residentes operando sozinhos em seu lugar sem o consentimento dos pacientes. Enquanto ocorriam as cirurgias, o especialista ficava no WhatsApp e até mesmo deixava o hospital para outros compromissos.
As situações ocorreram nos anos de 2021, 2022 e 2023. Ainda conforme a apuração, Fuchs contratava médicos recém-formados e sem especialização em cirurgia para trabalhar em seu lugar. Muitos, de acordo com o delegado, aceitavam por receio de retaliações.
Conforme a Polícia Civil, as vítimas relataram problemas como necrose e mutilações após as cirurgias. Entre 2018 e 2024 foram realizados pelo médico 727 procedimentos, sendo necessárias reintervenções em 481 deles.
Cremers diz que abriu sindicância
O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) informou que abriu sindicância para investigar os casos. Conforme o presidente da entidade, Eduardo Trindade, o processo será tratado pela instituição sob o ponto de vista ético:
— Nós vamos avaliar se ele (Fuchs) cometeu algum tipo de infração nesse sentido. Vamos ver se ele se colocou como responsável, mas na verdade quem executou o procedimento foi o médico residente. Se tem um número alto de reintervenções, alguma delas foi porque ele fez procedimento de forma inadequada, porque ele foi imperito, foi imprudente ou porque ele foi negligente. Isso que o Cremers está apurando agora — explica.
Ainda de acordo com o presidente, a sindicância também visa entender a participação e responsabilizar os profissionais envolvidos nas cirurgias. Ele garante que serão investigados todos os profissionais envolvidos nas cirurgias com problemas relatados pelos pacientes.
Confira a íntegra da nota enviada pelo Conselho Regional de Medicina do RS:
"A respeito do médico Leandro Fuchs, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) informa que abriu sindicâncias para averiguar os fatos sob o ponto de vista ético. A Justiça comum é responsável pelas questões criminais e cíveis.
O Cremers já encaminhou pedido à Polícia Civil para juntar os autos do inquérito policial às sindicâncias. Embora as investigações da Polícia Civil não interfiram nas ações do Conselho, as informações levantadas podem contribuir com as investigações sobre a conduta ética.
Medidas cautelares foram tomadas pela Justiça, e impedem o médico de realizar procedimentos cirúrgicos.
Vale ressaltar que, sempre que o Cremers recebe denúncia, abre sindicância para investigar os fatos sob a luz do Código de Ética Médica.
As sindicâncias e os processos ético-profissionais correm em sigilo determinado por lei.
O Cremers busca sempre a proteção da população, esclarecendo possíveis condutas que firam a ética médica.
No entanto, as investigações seguem um rito legal, que garante direito à ampla defesa, e não permite a antecipação de julgamentos para não incorrer na anulação de processos.
Porto Alegre, 11 de dezembro de 2024.
Dr. Eduardo Neubarth Trindade
Presidente do Cremers"