No fim da tarde de 2 de setembro, quando uma fila de carros se formava num semáforo, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, um assaltante mirou uma BMW. Bateu contra o vidro da janela com um revólver e anunciou o roubo. Exigiu que o motorista entregasse o relógio que usava. Ainda ao lado do carro, sobre a motocicleta, o ladrão foi surpreendido por um policial militar de folga, que estava em outra moto, logo atrás dele. Alvejado por três disparos, o criminoso tombou morto no meio da rua, com o relógio na mão.
A investigação deste caso levou a Polícia Civil a descobrir que integrantes da quadrilha do Rolex vinham agindo novamente na Capital. Esse tipo de ação vem sendo investigado nos últimos dois anos pela polícia gaúcha. Grupos, normalmente vindos de São Paulo, especializaram-se em roubar relógios de alto valor. Porto Alegre se tornou um desses destinos escolhidos pelos criminosos.
— Esses fatos não acontecem somente em Porto Alegre, mas em todo o Brasil, geralmente nas capitais. Acontecem nos bairros de maior poder aquisitivo, onde circulam veículos de valores mais elevados — explica a delegada Adriana Regina da Costa, diretora do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM).
Desde que a Polícia Civil começou a investigar as ações desses ladrões na Capital, 13 homens já foram presos por suspeita de envolvimento nos assaltos — além do criminoso morto pelo policial militar. Os detidos são de diferentes cidades de São Paulo. No caso mais recente, o homem morto foi identificado como um morador de Taboão da Serra, município da Grande São Paulo. Com 29 anos, natural de Santo André, ele tinha antecedentes por furto, associação e ameaça.
Segundo o delegado Juliano Ferreira, da 8ª Delegacia de Polícia, a identificação do assaltante foi possível por meio da troca de informações com a Polícia Civil de São Paulo. Após descobrirem a identidade do homem, os policiais conseguiram rastrear a atuação dele em Porto Alegre e chegaram a um outro suspeito. Também morador de Taboão da Serra, o homem de 34 anos tem antecedentes por roubos praticados no Paraná.
— Descobrimos que os dois tinham vindo juntos para cá. E ele foi preso quando estava retornando para São Paulo — explica Ferreira.
A prisão se deu a 430 quilômetros de Porto Alegre, na cidade de Curitibanos (SC), com ajuda da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Com o suspeito, os policiais encontraram outro Rolex. A polícia do RS descobriu que o relógio havia sido roubado dois dias antes do crime que resultou na morte do assaltante, também em Porto Alegre. Neste caso, o motorista foi abordado no bairro Passo d'Areia, no momento em que aguardava a esposa dentro do carro. O criminoso aproveitou o momento em que a mulher embarcava no veículo blindado para anunciar o roubo.
R$ 2,5 milhões em relógios apreendidos
O relógio recuperado após este último caso é avaliado em R$ 135 mil, segundo o proprietário. Nos últimos dois anos, a polícia recuperou cerca de R$ 2,5 milhões nesses itens roubados. Isso porque foram apreendidas 23 peças, sendo que cada uma delas tem valor estimado em cerca de R$ 100 mil.
Além dos relógios, a polícia também apreendeu neste período 10 armas de fogo e 49 placas de veículos clonadas. Motocicletas costumam ser usadas pela quadrilha para conseguir fazer a abordagem. Para dificultar a identificação, os assaltantes muitas vezes se disfarçam de motoboys, usando mochilas de entrega, alteram rotineiramente as placas falsas e chegam a modificar até mesmo a carenagem da motocicleta.
As vítimas, em geral, são escolhidas pelo veículo em que circulam — por ser de alto valor — ou locais, como restaurantes que frequentam. Os criminosos costumam usar a moto para perseguir o condutor, até encontrar um ponto onde conseguem se aproximar e efetuar o ataque.
— Eles utilizam também como forma de despistar e dificultar a nossa investigação a troca das placas das motos. Então, essas placas também já foram apreendidas e as motos usadas nos roubos — explica a delegada Adriana.
Os relógios são levados pelos criminosos para São Paulo, onde, segundo a polícia, já têm destinação para serem revendidos.
Onde registrar
Caso tenha sido vítima de roubo desse tipo e não tenha efetuado o registro, a orientação da Polícia Civil é procurar o Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), que fica no Palácio da Polícia, no bairro Azenha. Também é possível realizar o registro na delegacia mais próxima ou por meio da Delegacia Online.